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18-1
Arjuna disse: Ó poderoso de braços, desejo compreender o propósito da renúncia e a ordem da renúncia, ó mestre dos sentidos, ó matador do demônio Kéśī.
Explicação: Neste verso, Arjuna dirige-se a Krishna com o desejo de compreender o propósito da renúncia e a ordem da renúncia (a ordem de vida em que a pessoa renuncia aos desejos mundanos) e a essência e as diferenças da renúncia (o princípio da ação que envolve a renúncia aos frutos). Ele quer saber como esses dois conceitos diferem e como eles ajudam no caminho espiritual.
18-2
A Suprema Personalidade de Deus disse: Os sábios entendem que a renúncia às ações baseadas em desejos materiais é a ordem de vida da renúncia. E a entrega dos frutos de todas as ações a Deus é chamada pelos sábios de renúncia aos frutos.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que os sábios entendem que a renúncia às ações baseadas em desejos materiais é a ordem de vida da renúncia, mas a entrega dos frutos de todas as ações a Deus é chamada pelos sábios de renúncia aos frutos.
18-3
Alguns sábios declaram que toda ação que tem defeitos deve ser abandonada, mas outros pensam que nunca se deve renunciar ao sacrifício, à caridade e à austeridade.
Explicação: Neste verso, Krishna revela duas visões diferentes sobre a ação e a abstenção dela. Alguns sábios acreditam que toda ação que tem defeitos deve ser abandonada, pois liga a alma ao mundo material. Por outro lado, outros sábios acreditam que o sacrifício, a caridade e a austeridade devem ser mantidos, pois são essenciais na prática espiritual e ajudam a purificar a consciência.
18-4
Ó melhor dos Bharatas, ouve o Meu julgamento sobre a renúncia. Ó tigre entre os homens, a renúncia é descrita nas Escrituras Sagradas como sendo de três tipos.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a ouvir Sua opinião sobre a renúncia e explica que nas Escrituras Sagradas ela é descrita como sendo de três tipos, de acordo com as três qualidades da natureza material. Ele se prepara para explicar em detalhes esses três tipos de renúncia, que estão associados à bondade, à paixão e à ignorância.
18-5
O sacrifício, a caridade e a austeridade nunca devem ser abandonados; eles devem ser realizados. De fato, o sacrifício, a caridade e a austeridade purificam até mesmo as grandes almas.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza que o sacrifício, a caridade e a austeridade nunca devem ser abandonados, pois são práticas espirituais essenciais que purificam até mesmo as grandes almas. Essas ações ajudam a libertar-se do egoísmo, do apego e dos desejos materiais, promovendo assim o crescimento espiritual.
18-6
Todas essas ações devem ser realizadas sem apego e sem desejo por frutos. Elas devem ser realizadas como um dever, ó Pārtha. Essa é a Minha opinião final.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que o sacrifício, a caridade e a austeridade devem ser realizados sem apego e sem desejo por frutos. Elas devem ser realizadas como um dever, estando ciente de que essas ações são necessárias para o desenvolvimento espiritual e não para ganho pessoal. Essa abordagem é a opinião final e imutável de Krishna.
18-7
Os deveres prescritos nunca devem ser abandonados. Se alguém abandona seus deveres prescritos por ilusão, tal renúncia está na qualidade da ignorância.
Explicação: Neste verso, Krishna adverte que os deveres prescritos, que decorrem da natureza e da posição de uma pessoa na sociedade, nunca devem ser abandonados. Se alguém abandona seus deveres por ilusão, sem compreender seu verdadeiro significado, tal renúncia corresponde à qualidade da ignorância e não leva ao crescimento espiritual.
18-8
Aquele que renuncia ao dever prescrito, considerando-o trabalhoso, ou por medo, age na qualidade da paixão. Ao agir assim, ele nunca alcança o resultado da renúncia.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que a renúncia ao dever, baseada no medo de dificuldades ou desconforto, corresponde à qualidade da paixão. Tal ação não indica uma verdadeira renúncia espiritual e não produz o resultado esperado – a libertação. Em vez disso, prende a pessoa ainda mais ao mundo material.
18-9
Ó Arjuna, quando alguém executa o seu dever prescrito meramente porque deve ser feito, e renuncia a toda a associação com a matéria e aos frutos, a sua renúncia está na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a verdadeira renúncia, que está na qualidade da bondade. Uma pessoa executa o seu dever prescrito sem qualquer apego, simplesmente porque deve ser feito, e renuncia a toda a associação com os frutos. Tal renúncia é desinteressada e baseada na consciência espiritual pura.
18-10
O renunciante sábio, estabelecido na bondade, que não detesta o trabalho desfavorável nem está apegado ao trabalho favorável, não tem dúvidas sobre a ação.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve as qualidades de uma pessoa que alcançou a verdadeira renúncia na qualidade da bondade. Tal pessoa é sábia, não detesta o trabalho desfavorável e não está apegada ao trabalho favorável. Ela está livre de dúvidas sobre como agir corretamente, pois a sua ação é baseada na consciência espiritual pura e no sentido de dever.
18-11
Verdadeiramente, para um ser corporificado não é possível renunciar completamente a todas as atividades. Mas aquele que renuncia aos frutos da ação é considerado um verdadeiro renunciante.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que para um ser corporificado, enquanto estiver num corpo físico, não é possível renunciar completamente a todas as atividades. No entanto, é possível renunciar aos frutos da ação, ou seja, ao apego aos resultados. Aquele que consegue fazer isso é considerado um verdadeiro renunciante, pois a sua motivação não é voltada para o ganho pessoal, mas para o dever espiritual.
18-12
Para aquele que não renunciou, após a morte existem três tipos de frutos – desejáveis, indesejáveis e mistos. Mas aqueles que renunciaram não têm de desfrutar ou sofrer tais resultados.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a diferença entre aqueles que não renunciaram aos frutos da ação e aqueles que renunciaram verdadeiramente. Uma pessoa que não renunciou experimenta três tipos de frutos após a morte – desejáveis, indesejáveis e mistos, dependendo das suas ações anteriores. Por outro lado, aqueles que renunciaram verdadeiramente estão livres dessas consequências e já não experimentam nem prazer nem sofrimento associados aos resultados da ação material.
18-13
Ó Arjuna de braços poderosos, de acordo com o Vedānta, são necessárias cinco causas para a execução de qualquer ação. Agora aprende-as de Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna começa a explicar as cinco causas necessárias para a execução de qualquer ação, de acordo com a filosofia Vedānta. Ele pede a Arjuna para ouvir atentamente para compreender essas causas, que ajudarão a entender melhor os princípios da ação e da renúncia.
18-14
O local da ação (o corpo), o realizador, os vários sentidos, os vários esforços e, finalmente, a Superalma – estas são as cinco causas da ação.
Explicação: Neste verso, Krishna enumera as cinco causas necessárias para a execução de qualquer ação: o corpo como o local da ação, o realizador (a alma), os vários sentidos, os vários esforços e diligências, e finalmente – a Superalma, que supervisiona tudo e dá permissão. Estes cinco fatores juntos determinam o resultado de qualquer ação.
18-15
Todas as ações que um homem executa com o corpo, a mente ou a fala, sejam justas ou injustas, são causadas por estas cinco causas.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que todas as ações que uma pessoa executa com o corpo, a mente ou a fala, dependem das cinco causas mencionadas anteriormente. Independentemente de essas ações serem justas ou injustas, todas elas são determinadas pela interação desses cinco fatores.
18-16
Portanto, aquele que se considera o único realizador, sem considerar estas cinco causas, não é inteligente e não vê as coisas como elas realmente são.
Explicação: Neste verso, Krishna aponta que aquele que se considera o único realizador e não considera as cinco causas da ação, não é inteligente e não vê as coisas como elas realmente são. Tal pessoa é vaidosa e não entende a verdadeira natureza da ação, pois não percebe que há muitos fatores envolvidos em qualquer ação, não apenas a sua própria vontade.
18-17
Aquele que não age por vaidade, cuja inteligência não está apegada, mesmo matando neste mundo, não mata. Ele não está preso às consequências das suas ações.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que uma pessoa que age sem vaidade e cuja inteligência não está apegada aos frutos da ação, permanece livre das consequências da ação mesmo que tenha de matar alguém, por exemplo, ao cumprir o seu dever no campo de batalha. Tal pessoa age sem egoísmo e percebe que não é o verdadeiro executor da ação, mas apenas um instrumento nas mãos de Deus.
18-18
O conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor são os três incentivos para a ação. Os sentidos, o trabalho e o executor são as três partes constituintes da ação.
Explicação: Neste verso, Krishna explica os três incentivos para a ação – o conhecimento, o objeto do conhecimento e o conhecedor, bem como as três partes constituintes da ação – os sentidos, o trabalho em si e o executor. Estes seis elementos estão intimamente ligados e determinam a natureza e o resultado de qualquer ação. O conhecimento inspira a agir, o objeto do conhecimento é aquilo para o qual a ação é direcionada, e o conhecedor é aquele que realiza a ação. Por outro lado, os sentidos são os instrumentos, o trabalho é a própria ação e o executor é quem a realiza.
18-19
De acordo com as três qualidades da natureza material, também existem três tipos de conhecimento, ação e realizador. Ouve agora sobre eles.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que, de acordo com as três qualidades da natureza material (bondade, paixão e ignorância), também existem três tipos de conhecimento, ação e realizador. Ele convida Arjuna a ouvir uma explicação mais detalhada sobre como essas qualidades influenciam o conhecimento, a ação e o próprio realizador.
18-20
O conhecimento pelo qual uma pessoa vê uma única natureza espiritual indivisível em todos os seres, embora pareça dividida em inúmeras partes, é o conhecimento na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o conhecimento que corresponde à qualidade da bondade. Tal conhecimento permite a uma pessoa perceber uma natureza espiritual única e indivisível em todos os seres vivos, apesar da sua diversidade externa e diferenças de forma. Uma pessoa com esse conhecimento está ciente da unidade espiritual de todos os seres e da sua ligação com o Divino.
18-21
O conhecimento pelo qual uma pessoa vê que diferentes entidades vivas residem em diferentes corpos é o conhecimento na qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o conhecimento que corresponde à qualidade da paixão. Tal conhecimento permite perceber as diferenças entre os seres vivos, enfatizando que uma alma diferente reside em cada corpo. Este conhecimento é limitado porque não permite ver a unidade espiritual de todos os seres, mas concentra-se nas diferenças externas.
18-22
E o conhecimento que leva uma pessoa a apegar-se a um único tipo trivial de trabalho como o único importante, sem compreender a verdade, é o conhecimento na qualidade da escuridão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o conhecimento que corresponde à qualidade da ignorância ou escuridão. Tal conhecimento é muito limitado e restringe a visão de uma pessoa, levando-a a apegar-se a um único tipo trivial de trabalho como o único importante, sem compreender a verdade e sem ver o panorama geral. Este conhecimento é baseado na ignorância e na escuridão espiritual.
18-23
Se uma ação, que é um dever, é realizada sem apego, sem amor ou ódio, sem desejo de obter frutos, então está na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a ação que corresponde à qualidade da bondade. Tal ação é realizada por dever, sem apego, sem emoções fortes como amor ou ódio por alguém, e sem o desejo de obter frutos ou benefícios pessoais. É altruísta e baseada numa consciência espiritual do dever.
18-24
Mas a ação que é realizada com grande esforço para satisfazer os próprios desejos e que provém do falso ego, é chamada de ação na qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a ação que corresponde à qualidade da paixão. Tal ação é realizada com grande esforço e empenho para satisfazer os próprios desejos e ambições. A sua base reside no falso ego ou devido a uma autoidentificação imaginária, que leva a pessoa a considerar-se como um corpo e a agir com base em desejos materiais.
18-25
E a ação que é realizada na escuridão e ignorância, sem considerar as instruções das escrituras sagradas, nem as consequências futuras, nem a violência ou o dano causado aos outros, é considerada uma ação na qualidade da ignorância.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a ação que corresponde à qualidade da ignorância ou escuridão. Tal ação é realizada na ignorância e na escuridão, sem considerar as instruções das escrituras sagradas, nem as consequências futuras para si e para os outros. É destrutiva e está associada à violência e ao causar danos a outros, pois é baseada numa completa inconsciência espiritual.
18-26
Uma pessoa que cumpre o seu dever sem se apegar às qualidades materiais, sem falso ego, com grande determinação e entusiasmo, permanecendo equânime tanto no sucesso como no fracasso, age na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve uma pessoa que trabalha na qualidade da bondade. Tal pessoa cumpre o seu dever sem apego ao resultado, sem egoísmo, com grande determinação e entusiasmo, mantendo a calma e o equilíbrio tanto no sucesso como no fracasso. As suas ações são baseadas numa consciência espiritual pura e no cumprimento do dever.
18-27
O realizador que está apegado à ação e aos seus frutos, deseja desfrutar desses frutos, é ganancioso, sempre invejoso, impuro e influenciado pela alegria e pela tristeza, age na qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve uma pessoa que trabalha na qualidade da paixão. Tal realizador está apegado à ação e aos seus frutos, deseja desfrutar desses frutos, é ganancioso, invejoso, impuro e está sujeito a emoções fortes – alegria e tristeza. As suas ações são baseadas em desejos egoístas e na obtenção de benefícios materiais.
18-28
E o realizador que sempre age em contradição com as instruções das escrituras sagradas, que é materialista, teimoso, fraudulento e sabe insultar os outros, que é preguiçoso, sempre sombrio e adia tudo, age na qualidade da escuridão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve uma pessoa que trabalha na qualidade da ignorância ou escuridão. Tal realizador age sempre em contradição com as instruções das escrituras sagradas, é materialista, teimoso, fraudulento e sabe insultar os outros. É preguiçoso, sempre sombrio, pessimista e adia tudo para mais tarde. As suas ações são baseadas na ignorância e na escuridão espiritual.
18-29
Ó conquistador de riquezas, agora, por favor, ouve como Eu descrevo em detalhe as três espécies de inteligência e determinação de acordo com as três qualidades da natureza material.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a ouvir uma explicação mais detalhada sobre como a inteligência e a determinação se manifestam de três maneiras diferentes, de acordo com as três qualidades da natureza material – bondade, paixão e ignorância. Esta compreensão ajudará a entender melhor a diversidade das ações e motivações humanas.
18-30
Ó Pārtha, a inteligência que permite compreender o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que se deve temer e o que não se deve temer, o que acorrenta e o que liberta, está na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a inteligência correspondente à qualidade da bondade. Essa inteligência ajuda a pessoa a distinguir claramente o que deve ser feito e o que não deve ser feito, o que deve ser temido e o que não deve ser temido, o que acorrenta e o que liberta. A inteligência na qualidade da bondade é pura, harmoniosa e voltada para a compreensão espiritual.
18-31
Ó Pārtha, a inteligência que não consegue distinguir entre o dever e o que não é dever, entre o que deve ser feito e o que não deve ser feito, está na qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a inteligência correspondente à qualidade da paixão. Essa inteligência não consegue distinguir claramente o dever do que não é dever e não permite que a pessoa entenda precisamente o que deve ser feito e o que não deve ser feito. A inteligência influenciada pela paixão é instável, contraditória e voltada para a satisfação dos desejos materiais.
18-32
A inteligência que, sob o impacto da escuridão e da ilusão, considera a falsidade como verdade e a verdade como falsidade, e que sempre tende para o lado errado, ó Pārtha, está na qualidade da ignorância.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a inteligência correspondente à qualidade da ignorância ou escuridão. Essa inteligência está completamente obscurecida e ilusória, considerando a falsidade como verdade e vice-versa. Ela sempre tende para o lado errado, pois não consegue distinguir a realidade da ilusão e está em estado de ignorância espiritual.
18-33
Ó Pārtha, a determinação inabalável que é mantida com a prática constante do poder Divino, que assim controla as atividades da mente, da vida e dos sentidos, está na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a determinação correspondente à qualidade da bondade. Essa determinação é inabalável e é mantida com a prática constante do poder Divino, o que ajuda a controlar as atividades da mente, da força vital e dos sentidos. Esta determinação é voltada para um objetivo espiritual e ajuda a manter a paz e o equilíbrio interior.
18-34
Mas a determinação com a qual a pessoa anseia pelos frutos da ação, ó Arjuna, para obter prazeres, está na qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a determinação correspondente à qualidade da paixão. Essa determinação é voltada para a obtenção dos frutos da ação, e a pessoa com essa determinação age para alcançar resultados materiais e obter benefícios pessoais. Essa determinação está ligada a desejos e apegos, não sendo verdadeiramente espiritual.
18-35
E a determinação que não permite elevar-se acima dos sonhos, medos, tristezas, mau humor e ilusões – essa determinação insensata, ó Pārtha, está na qualidade da escuridão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a determinação correspondente à qualidade da ignorância ou escuridão. Essa determinação está ligada a sonhos, medos, tristezas, mau humor e ilusões. Ela não permite que a pessoa se eleve acima de ideias limitantes e emoções negativas, e é insensata porque se baseia na ignorância e na escuridão espiritual.
18-36
Ó o melhor dos Bhāratas, agora ouve de Mim sobre as três espécies de felicidade desfrutadas pela alma condicionada, que lhe permitem libertar-se de todo o sofrimento.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a ouvir Sua explicação sobre as três espécies de felicidade que a alma pode experimentar ao estar no mundo material. Essa felicidade depende de quais qualidades influenciam a alma, e pode levar à cessação do sofrimento e à libertação.
18-37
A felicidade que no início é como veneno, mas no final como néctar da imortalidade e que desperta a pessoa para a auto-realização, está na qualidade da bondade.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a felicidade correspondente à qualidade da bondade. Essa felicidade pode parecer desagradável no início, como veneno, porque requer a renúncia dos desejos e apegos habituais. No entanto, no final, proporciona verdadeira satisfação e libertação, como o néctar da imortalidade, e ajuda a pessoa a despertar sua verdadeira natureza espiritual, levando à auto-realização.
18-38
A felicidade que surge do contato dos sentidos com os seus objetos e que no início parece néctar, mas no final se torna veneno, corresponde à qualidade da paixão.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a felicidade correspondente à qualidade da paixão, que surge do contato dos sentidos com seus objetos, ou seja, dos prazeres sensoriais, e no início parece muito agradável, como néctar, mas no final se torna veneno, pois cria apego, sofrimento e dependência de circunstâncias externas, e essa felicidade é passageira e ilusória.
18-39
E a felicidade que é cega para a autorrealização, que é ilusória do início ao fim e que surge do sono, da preguiça e do engano, corresponde à qualidade da ignorância.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a felicidade correspondente à qualidade da ignorância ou escuridão, que é cega para a autorrealização e os valores espirituais, é ilusória do início ao fim e surge do sono, da preguiça e do engano, e essa felicidade é ilusória e leva à degradação espiritual, pois se baseia na ignorância e na inércia.
18-40
Não há nenhum ser, nem na Terra, nem no céu entre os deuses, que esteja livre dessas três qualidades da natureza (características do caráter).
Explicação: Neste verso, Krishna explica que as três qualidades da natureza ou características do caráter – bondade, paixão e ignorância – estão presentes em todos os seres e ninguém está livre da sua influência, nem pessoas nem deuses. Estas qualidades formam a base da existência material, e todos os seres vivos, independentemente do seu estatuto, são influenciados por elas, e que apenas superando estas qualidades é que se pode alcançar a libertação dos laços do mundo material. • Não há nenhum ser que esteja livre das características do caráter: Este verso indica que todos os seres – tanto na Terra como no céu, incluindo os seres divinos – estão sujeitos à influência destas três *gunas*. Estas características do caráter formam a base da existência material, e todos os seres vivos, independentemente do seu estatuto, são influenciados por elas. • Três qualidades da natureza ou características do caráter: Bondade, paixão e ignorância determinam o comportamento, os pensamentos e as ações de cada ser. Estas qualidades influenciam a forma como uma pessoa percebe o mundo, como age e como se desenvolve espiritualmente. Até os deuses, que são superiores aos humanos, não estão completamente livres da influência destas qualidades. • Limitação de todos os seres no mundo material: Krishna explica que enquanto um ser estiver no mundo material, está sujeito à influência dessas qualidades. Apenas superando estas qualidades é que se pode alcançar a libertação dos laços do mundo material.
18-41
Brahmanes, *kṣatriyas*, *vaiśyas* e *śūdras* diferem pelas qualidades inerentes à sua natureza e que surgiram das três qualidades da natureza material.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que a divisão da sociedade em quatro grupos ou funções – brâmanes (sacerdotes e professores), *kṣatriyas* (governantes e guerreiros), *vaiśyas* (comerciantes e agricultores) e *śūdras* (trabalhadores e servos) – não é artificial, mas sim baseada nas características de cada grupo, que derivam das três qualidades da natureza material. Cada grupo tem as suas inclinações e deveres naturais, que correspondem à sua essência interior.
18-42
Paz, autodomínio, ascese, pureza, paciência, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade – estas são as qualidades da natureza inerentes ao trabalho dos brâmanes.
Explicação: Neste verso, Krishna enumera as qualidades inerentes aos brâmanes – o grupo espiritual e intelectual da sociedade. O dever dos brâmanes é estudar as escrituras sagradas, realizar rituais religiosos, fornecer orientação espiritual e viver de acordo com elevados princípios morais.
18-43
Heroísmo, força, determinação, habilidade, coragem na batalha, generosidade e capacidade de governar são as qualidades e deveres naturais dos *kṣatriyas*.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve as qualidades e os deveres dos *kṣatriyas* (governantes e guerreiros) que derivam da sua natureza. Estes deveres são baseados na coragem, força e habilidades de liderança necessárias para proteger a sociedade e manter a justiça. • Heroísmo e força: Os *kṣatriyas* devem ser heróicos e corajosos para proteger a sociedade e lutar pela justiça. Devem ser dotados de força física e espiritual que lhes permita suportar dificuldades. • Determinação e habilidade: Os *kṣatriyas* devem ser determinados e habilidosos para tomar decisões rápidas e sábias tanto na batalha como na administração da sociedade. Esta qualidade é essencial para liderar e proteger a sociedade com sucesso. • Coragem na batalha: Os *kṣatriyas* nunca devem fugir da batalha, devem estar preparados para enfrentar o inimigo e defender a justiça, mesmo à custa da própria vida. A coragem e a determinação são essenciais no seu caráter. • Generosidade e capacidade de governar: Os *kṣatriyas* devem ser generosos, devem partilhar os seus recursos com os outros e cuidar do bem-estar da sociedade. Também devem ter capacidades de liderança, pois lideram e protegem a sociedade com justiça e sabedoria.
18-44
A agricultura, a proteção das vacas e o comércio são o trabalho natural dos *vaiśyas*, e é natural que os *śūdras* façam trabalho físico e sirvam os outros.
Explicação: Neste verso, Krishna menciona os deveres dos *vaiśyas* e dos *śūdras*. Os *vaiśyas* dedicam-se à agricultura, à proteção das vacas e ao comércio, cuidando do bem-estar económico da sociedade. Os *śūdras* realizam trabalho físico e servem os outros, prestando apoio prático e assistência. Estes deveres correspondem às inclinações e capacidades naturais de cada grupo.
18-45
Quando uma pessoa se dedica aos seus deveres, alcança a perfeição. Agora ouve de Mim como se pode alcançar a perfeição realizando os seus trabalhos.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que a perfeição e o desenvolvimento espiritual são alcançados realizando os seus deveres com dedicação e determinação. Uma pessoa deve dedicar-se aos seus deveres e trabalhar de acordo com a sua natureza para alcançar a perfeição, e que qualquer trabalho, se realizado com responsabilidade e diligência, pode levar ao crescimento espiritual. • Dedicação aos seus deveres: Cada pessoa pode alcançar a perfeição se se dedicar totalmente aos seus trabalhos e deveres. Isto significa que qualquer trabalho, se realizado com responsabilidade e diligência, pode levar ao crescimento espiritual. • Alcançar a perfeição: A perfeição que Krishna menciona aqui significa não só sucesso material, mas também crescimento espiritual e desenvolvimento interior. Quando uma pessoa aceita o seu papel na vida e realiza os seus deveres com uma atitude consciente, ela aproxima-se da perfeição espiritual. • Ouve como alcançá-la: Krishna indica que há uma maneira de alcançar a perfeição através do seu trabalho, e ele está prestes a explicar como isso é possível. Este verso serve de introdução às instruções subsequentes sobre como as tarefas diárias podem tornar-se um caminho para o crescimento espiritual.
18-46
Ao adorar Aquele de quem provêm todos os seres e que é omnipresente, uma pessoa, ao cumprir o seu dever, pode alcançar a perfeição.
Explicação: Neste verso, Krishna indica que uma pessoa pode alcançar a perfeição ao cumprir o seu dever e adorar a Deus, de quem provêm todos os seres e que é omnipresente. Isto significa que, ao realizar os seus deveres com a consciência de que Deus está presente em todas as ações, uma pessoa pode alcançar a perfeição espiritual.
18-47
É melhor cumprir o seu próprio dever, ainda que imperfeitamente, do que cumprir bem o dever de outro. Ao cumprir um dever que corresponde à sua própria natureza, uma pessoa nunca incorre em pecado.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza que é melhor cumprir o seu próprio dever, ainda que imperfeitamente, do que cumprir bem o dever de outrem. Cada pessoa tem a sua natureza individual e o seu dever correspondente, e ao seguir o seu próprio caminho, a pessoa não incorre em pecado, ou seja, não age em contradição com a sua própria essência e a vontade Divina.
18-48
Em cada ação há defeitos, assim como o fogo é coberto pela fumaça. Portanto, ó filho de Kunti, ninguém deve abandonar o trabalho que corresponde à sua natureza inata, mesmo que este trabalho tenha defeitos.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que em cada ação, mesmo na melhor, há os seus defeitos, assim como o fogo é sempre acompanhado pela fumaça. Portanto, ninguém deve abandonar o trabalho que corresponde à sua natureza inata, mesmo que este trabalho tenha defeitos, pois o importante é cumprir o seu dever de acordo com a sua natureza, e não procurar uma ação ideal, mas imperfeita.
18-49
Aquele que é capaz de se controlar, libertou-se do apego e não leva em conta os bens materiais, pode, renunciando a tudo, alcançar o mais alto grau de perfeição – a libertação das consequências da ação.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o caminho para o mais alto grau de perfeição – a libertação das consequências da ação, ou karma. Aquele que é capaz de se controlar, libertou-se do apego aos prazeres e desejos materiais, pode, renunciando a tudo, ou seja, à ação egoísta, alcançar este estado, e que tal renúncia não é passividade, mas uma ação consciente sem apego ao resultado.
18-50
Ó filho de Kuntī, aprende de Mim como, atingindo esta perfeição, se pode chegar à Verdade Suprema, à Consciência Divina, que é o mais elevado caminho do conhecimento – Eu te contarei isso em breve.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a aprender como, atingindo o grau de perfeição descrito anteriormente, se pode chegar à Verdade Suprema, à Consciência Divina. Ele contará brevemente sobre este caminho de conhecimento superior, que leva à libertação espiritual e à unidade com o Divino.
18-51
Purificando a própria inteligência e controlando resolutamente a mente, renunciando à satisfação dos sentidos, libertando-se do apego e do ódio.
Explicação: Neste verso, Krishna começa a explicar o caminho para alcançar a Consciência Divina. Começa com a purificação da inteligência de noções falsas e apegos, com o controle resoluto da mente, a renúncia à satisfação dos sentidos, que prendem a alma ao mundo material, e a libertação do apego e do ódio, que são manifestações de uma consciência dualista e egoísta.
18-52
Vivendo isolado, comendo pouco, controlando o corpo, a mente e a fala, imergindo sempre em contemplação, estando num estado de desapego.
Explicação: Neste verso, Krishna continua a explicar o caminho para alcançar a Consciência Divina. Isso inclui viver isolado para evitar distrações desnecessárias, comer com moderação, controlar o corpo, a mente e a fala, imergir constantemente em contemplação espiritual e manter um estado de desapego, o que significa liberdade de desejos e apegos materiais.
18-53
E, libertando-se do falso ego, do falso poder, do falso orgulho, da luxúria, da raiva, da aceitação de coisas falsas, do sentimento de posse, da falsidade, tornando-se pacífico – tal pessoa, sem dúvida, elevou-se ao nível da autoconsciência.
Explicação: Neste verso, Krishna termina de explicar as qualidades e os estados necessários para alcançar a Consciência Divina. Uma pessoa deve libertar-se do falso ego, do falso poder e do orgulho, da luxúria, da raiva e da aceitação ilusória de coisas materiais. Deve libertar-se do sentimento de posse e tornar-se pacífica. Tal pessoa, sem dúvida, elevou-se ao nível da consciência de si mesma como uma alma eterna e espiritual.
18-54
Aquele que se encontra neste estado transcendental, alcança imediatamente a Verdade Suprema. Ele nunca se entristece nem deseja obter nada. Ele é equânime para com todos os seres vivos. Neste estado, ele alcança o puro serviço devocional a Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o estado alcançado por uma pessoa que se elevou ao nível transcendental. Ele alcança imediatamente a Verdade Suprema, ou seja, a Consciência Divina, nunca se entristece nem deseja obter nada, pois está completamente satisfeito na existência espiritual, e é equânime para com todos os seres vivos, pois vê neles a centelha espiritual. Neste estado, ele alcança o puro serviço devocional a Deus, que é o objetivo mais elevado da vida espiritual.
18-55
Eu, como a Pessoa Suprema, só posso ser conhecido através do serviço devocional. Quando uma pessoa, graças a tal devoção, Me conhece completamente, ela pode entrar no reino Divino.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza que Ele, como a Pessoa Suprema, só pode ser conhecido através do serviço devocional fiel, que é o caminho do amor e da entrega. Graças a tal devoção e serviço, uma pessoa conhece completamente Krishna e pode entrar no reino Divino, ou seja, alcançar a libertação espiritual e a unidade com Deus.
18-56
Embora Meu puro adorador esteja envolvido nas mais diversas atividades, sob Minha proteção, com Minha graça, ele alcança a morada eterna e indestrutível.
Explicação: Neste verso, Krishna afirma que, mesmo que Seu puro adorador esteja envolvido nas mais diversas atividades mundanas, ele alcança a morada espiritual eterna e indestrutível com a proteção e a graça de Krishna. Isso significa que o verdadeiro serviço devocional e a confiança em Deus permitem alcançar a libertação, independentemente das ações externas.
18-57
Em todas as ações, simplesmente confia em Mim e age sempre sob Minha proteção. Neste serviço de devoção, esteja completamente consciente de Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna e todas as pessoas a confiarem plenamente Nele em todas as ações e a agirem sempre sob Sua proteção, ou seja, com a consciência de que Deus é o verdadeiro realizador e desfrutador de todas as ações. Tal serviço cheio de confiança significa plena consciência de Deus e agir de acordo com a Sua vontade.
18-58
Se Me conheceres, com Minha graça superarás todos os obstáculos da existência limitada. Contudo, se não agires com tal consciência, mas sim com um falso ego, não Me ouvindo, estarás perdido.
Explicação: Neste verso, Krishna indica claramente as consequências que surgem se uma pessoa conhece Deus ou age de acordo com um falso ego. Se uma pessoa conhece Krishna e age com submissão a Ele, então, com a graça de Krishna, ela superará todos os obstáculos da existência material limitada, mas, se uma pessoa age com um falso ego, não ouvindo as instruções de Krishna, ela estará perdida, ou seja, permanecerá sob o poder do sofrimento do mundo material.
18-59
Se não aceitares as Minhas instruções e não lutares, então agirás incorretamente. Pela tua própria natureza, serás envolvido na luta.
Explicação: Neste verso, Krishna avisa Arjuna que, recusando-se a seguir as instruções de Krishna e não participando da batalha, ele agirá incorretamente. A natureza de Arjuna como um kshatriya (guerreiro) ainda o forçará a se envolver na luta, pois esse é o seu dever e destino, e que, recusando o seu dever, Arjuna entrará em conflito com a sua natureza e a vontade Divina.
18-60
Ó filho de Kuntī (Arjuna)! Estás ligado pela tua natureza e deveres. Mesmo que agora, por ilusão, não queiras cumpri-los, acabarás por fazê-lo, mesmo contra a tua vontade.
Explicação: Neste verso, Krishna explica como a natureza e o caráter de uma pessoa determinarão suas ações, independentemente de seus desejos e ilusões. Arjuna está ligado por sua natureza e deveres como kshatriya, e mesmo que ele não queira cumpri-los agora por ilusão, ele acabará por fazê-lo, mesmo contra sua vontade, porque essa é a sua natureza inata. • Ligado pela sua natureza: O caráter, as qualidades naturais e as habilidades de uma pessoa derivam de sua natureza, que foi formada ao longo de muitos ciclos de vida. Cada pessoa é determinada por suas características, que determinam suas ações e deveres nesta vida. • A ação é inevitável: Uma pessoa está ligada a seus deveres e ações, que derivam de seu caráter e natureza. Ele não pode desistir completamente deles, pois eles são inevitáveis. Mesmo que uma pessoa tente evitar seus deveres, sua natureza acabará por forçá-la a agir. • Ilusão e falta de vontade: Ilusão é um estado mental em que a pessoa não entende a verdadeira realidade. As dúvidas e a falta de vontade de Arjuna em lutar decorrem de sua confusão e ilusão. No entanto, mesmo neste estado, ele não consegue evitar seu dever. • Ação contra a sua vontade: Mesmo que uma pessoa relutantemente se recuse a cumprir seus deveres, sua natureza e destino acabarão por forçá-la a agir de acordo com seus deveres. A natureza é mais forte do que a vontade humana e determinará suas ações.
18-61
O Senhor Supremo está situado no coração de todos, ó Arjuna, e dirige os movimentos de todas as entidades, que estão situadas no mecanismo da matéria.
Explicação: Neste verso, Krishna revela que o Senhor Supremo, Deus, está situado no coração de todos como a Superalma e dirige os movimentos de todos os seres vivos que estão no mundo material. Os seres vivos são como marionetes no mecanismo da natureza material, e Deus é quem direciona e determina seus destinos.
18-62
Ó descendente de Bharata, rende-te totalmente a Ele. Pela Sua graça, alcançarás a paz transcendental e a morada suprema e eterna.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a se render completamente a Deus, que habita em seu coração. Pela graça de Deus, Arjuna poderá alcançar a paz transcendental, que é livre dos sofrimentos do mundo material, e a morada espiritual suprema e eterna, que é o estado de libertação espiritual e perfeição.
18-63
Assim, Eu te expliquei o conhecimento que é ainda mais confidencial. Delibera sobre isso completamente e age como desejares.
Explicação: Neste verso, Krishna conclui Seus ensinamentos, revelando a Arjuna o conhecimento que é ainda mais confidencial, ou seja, os insights espirituais mais importantes e essenciais. Ele convida Arjuna a considerar cuidadosamente tudo o que foi ouvido e então agir de acordo com seu livre arbítrio, assumindo a responsabilidade por suas escolhas.
18-64
Como és Meu amigo muito querido, Eu te revelarei o conhecimento mais confidencial de todos. Ouve-o de Mim, pois isso é para o teu bem.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza novamente Seu amor por Arjuna, explicando que Ele revelará a Arjuna o conhecimento mais confidencial, que se destina ao bem de Arjuna. Este amor e preocupação com o bem-estar espiritual de Arjuna são a razão pela qual Krishna compartilha insights espirituais tão profundos.
18-65
Pensa sempre em Mim, torna-te Meu adorador, presta-Me reverência e prostra-te diante de Mim. Assim, certamente virás a Mim. Eu te prometo isso, pois és Meu querido amigo.
Explicação: Neste verso, Krishna lembra novamente a Arjuna a essência do serviço devocional – pensar sempre em Deus, tornar-se Seu adorador, reverenciá-Lo e prostrar-se diante Dele. Tal caminho espiritual, baseado no amor e na rendição, garante que uma pessoa venha a Deus. Krishna enfatiza isso em particular porque Arjuna é Seu querido amigo.
18-66
Abandona todos os outros deveres e busca refúgio somente em Mim. Eu te libertarei de todos os pecados, então não te aflijas nem te preocupes.
Explicação: Este verso é a principal instrução e convite de Krishna à total confiança e rendição a Deus: • Abandona todos os outros deveres: Krishna convida Arjuna a se libertar de todos os deveres relacionados às normas sociais e religiosas. Isso não significa ignorar os princípios morais, mas sim parar de se identificar com deveres externos e dedicar completamente sua vida a Deus. A palavra usada no original é "dharmas", que significa não apenas deveres, mas também religiões, justiça e outros princípios. Portanto, esta frase também poderia ser traduzida como "Abandona todas as formas de religião" ou "Abandona todas as outras formas de justiça". Isso ajudaria a entender melhor o significado mais profundo da frase, que convida à total confiança em Deus, transcendendo rituais externos e normas sociais. • Busca refúgio somente em Mim: Krishna convida Arjuna e todos os seguidores a se dedicarem apenas a Deus. Isso significa total confiança, fé e confiança na orientação de Deus. Uma pessoa não precisa mais se preocupar com seus deveres ou dificuldades se confiar totalmente em Deus e seguir Suas instruções. • Eu te libertarei de todos os pecados: Krishna promete que, se uma pessoa se render a Deus, Deus a libertará de todos os pecados e consequências. Isso significa que a confiança em Deus purifica as ações de uma pessoa e a liberta espiritualmente dos sofrimentos materiais e do apego. • Não te aflijas: Krishna conforta Arjuna e todos os seguidores para que não se aflijam nem se preocupem. A total confiança em Deus proporciona paz e segurança, pois Deus está sempre presente e protege aqueles que confiam Nele.
18-67
Este conhecimento confidencial não deve ser explicado àqueles que não são dedicados à austeridade, que não são fiéis, que não estão envolvidos no serviço devocional ou àqueles que Me invejam.
Explicação: Neste verso, Krishna indica a quem não deve ser explicado este conhecimento profundamente espiritual e confidencial. Não se destina àqueles que não são dedicados à prática espiritual (austeridade), que não são fiéis a Deus, não estão envolvidos no serviço devocional ou invejam Deus e pessoas espiritualmente desenvolvidas, e que este conhecimento deve ser transmitido apenas àqueles que estão prontos para recebê-lo com um coração e mente abertos.
18-68
Para aquele que ensina este segredo supremo aos Meus devotos, o serviço devocional puro é garantido e, no final, ele certamente retornará a Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna promete que aquele que ensina este segredo supremo, ou seja, os ensinamentos do Bhagavad Gita, aos Seus fiéis, certamente alcançará o serviço devocional puro e, no final, retornará a Deus, no mundo espiritual. Este serviço de espalhar o conhecimento espiritual é muito valorizado e leva à libertação espiritual.
18-69
Neste mundo, não há nenhum servo mais querido por Mim do que ele, e nunca haverá nenhum mais querido.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza mais uma vez o quanto Ele valoriza aqueles que divulgam o conhecimento espiritual. Não há nenhum servo neste mundo que seja mais querido por Ele do que aquele que ensina os ensinamentos do Bhagavad Gita, e Krishna afirma que nunca haverá ninguém mais amado por Ele do que essa pessoa.
18-70
E Eu declaro que aquele que estudar esta nossa sagrada conversa Me adorará com a sua inteligência.
Explicação: Neste verso, Krishna declara que aquele que estudar esta sagrada conversa, ou seja, o Bhagavad Gita, O adorará com a sua inteligência. Estudar o Bhagavad Gita é uma forma de adoração espiritual que permite a uma pessoa se aproximar de Deus com a ajuda da razão e da compreensão, e que esta ação é altamente valorizada no caminho espiritual.
18-71
E aquele que ouvir com fé e sem inveja se libertará das consequências dos pecados e alcançará os planetas auspiciosos onde residem os justos.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza a importância da fé e da abertura ao ouvir os ensinamentos do Bhagavad Gita. Uma pessoa que ouvir este ensinamento com fé e sem inveja se libertará das consequências dos seus pecados anteriores e alcançará os planetas auspiciosos onde residem almas justas e espiritualmente avançadas, e que até mesmo ouvir com o coração aberto pode trazer grandes benefícios espirituais.
18-72
Ó Pārtha, ó conquistador de riquezas, ouviste-Me atentamente? E as tuas ignorâncias e ilusões foram agora dissipadas?
Explicação: Neste verso, Krishna faz uma pergunta de controlo a Arjuna para se certificar de que Arjuna ouviu e compreendeu atentamente todos os ensinamentos. Ele pergunta se as ignorâncias e ilusões de Arjuna foram dissipadas, ou seja, se Arjuna se libertou das suas dúvidas e obteve uma compreensão espiritual clara.
18-73
Arjuna disse: A minha confusão desapareceu e recuperei a memória pela Tua graça, ó Achyuta (Krishna). Agora estou livre de dúvidas e estou pronto para seguir as Tuas instruções.
Explicação: Este verso demonstra como os ensinamentos espirituais podem dissipar a confusão e as dúvidas, se uma pessoa ouvir com fé e mente aberta. Arjuna afirma que a sua confusão desapareceu, que recuperou a memória e que agora, graças à graça de Krishna, está livre de dúvidas e pronto para seguir as instruções de Krishna. O despertar espiritual vem sempre com a ajuda da graça Divina e, quando uma pessoa está livre de dúvidas, pode agir com confiança e propósito.
18-74
Sanjaya disse: Assim ouvi esta maravilhosa conversa entre duas grandes almas – Vāsudeva (Krishna) e Pārtha (Arjuna). E tão maravilhosas são as mensagens de Krishna que os meus cabelos se arrepiam.
Explicação: Neste verso, Sanjaya, que é o narrador, expressa a sua reverência e admiração pela conversa que acabou de ouvir entre Krishna e Arjuna. Esta conversa foi tão maravilhosa e espiritualmente edificante que os seus cabelos se arrepiam, ou seja, ele sente uma profunda agitação espiritual, e que este verso mostra o forte impacto dos ensinamentos do Bhagavad Gita no ouvinte.
18-75
Pela graça de Vyāsadeva, ouvi estes ensinamentos mais confidenciais e transcendentais diretamente do senhor da sabedoria espiritual, Krishna, que Ele próprio os explicou a Arjuna.
Explicação: Neste verso, Sanjaya expressa gratidão a Vyāsadeva, que com o seu poder espiritual permitiu que Sanjaya ouvisse estes ensinamentos mais confidenciais e transcendentais que Krishna, o senhor da sabedoria espiritual, explicou pessoalmente a Arjuna. Sanjaya percebe que esta é uma oportunidade única de ouvir a revelação Divina diretamente da boca de Deus.
18-76
Ó rei, ao recordar repetidamente esta maravilhosa e sagrada conversa entre Krishna e Arjuna, exulto e sou tomado por emoção a cada momento.
Explicação: Neste verso, Sanjaya expressa as suas profundas emoções ao relembrar a maravilhosa e sagrada conversa entre Krishna e Arjuna. Cada vez que se lembra desta conversa, ele exulta e sente emoção espiritual, e que isso mostra que os ensinamentos do Bhagavad Gita têm um impacto duradouro e poderoso na consciência do ouvinte.
18-77
Ó rei, quando me lembro da maravilhosa forma de Krishna, sou tomado por ainda maior espanto e alegro-me novamente.
Explicação: Neste verso, Sanjaya recorda não só o conteúdo da conversa, mas também a maravilhosa forma cósmica de Krishna, que Krishna revelou a Arjuna. Esta lembrança causa ainda maior espanto e alegria espiritual em Sanjaya, e que isto indica a grandeza e beleza da manifestação divina de Krishna, que deixa uma impressão indelével no observador.
18-78
Onde quer que esteja Krishna, o Senhor de todos os mestres espirituais, e onde quer que esteja Arjuna, o grande arqueiro, certamente haverá também opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade. Esta é a minha opinião.
Explicação: Neste verso, Sanjaya expressa a sua convicção de que onde quer que Krishna, o Senhor de todos os mestres espirituais, e Arjuna, o grande arqueiro, estejam, certamente haverá também opulência, vitória, poder extraordinário e moralidade. Isto significa que a presença divina e o seguimento fiel dos princípios espirituais garantem prosperidade e justiça, e que este verso conclui o Bhagavad Gita com a convicção da vitória do poder e da justiça de Deus.
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