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2-1
Sanjaya disse: Então, vendo Arjuna tomado pela compaixão, com os olhos cheios de lágrimas e desesperado, Madhusudana (Krishna) proferiu estas palavras.
Explicação: Krishna começa seu ensinamento espiritual a Arjuna. Sanjaya, que está relatando os eventos a Dhritarashtra, descreve o estado emocional de Arjuna: tomado pela compaixão e com os olhos cheios de lágrimas, ele está profundamente desesperado, incapaz de aceitar a ideia de lutar contra seus parentes. Krishna é aqui referido como Madhusudana, o que indica sua capacidade de destruir forças demoníacas. Agora sua tarefa é dissipar os demônios espirituais e emocionais de Arjuna - suas dúvidas e tristezas.
2-2
O Senhor Supremo disse: Meu querido Arjuna, como essas impurezas vieram sobre você? Elas não combinam em nada com uma pessoa que conhece o valor da vida. Elas não levam aos planetas superiores, mas à infâmia.
Explicação: Neste verso, Krishna se dirige a Arjuna com surpresa e desapontamento por sua confusão e fraqueza emocional. Krishna pergunta por que tal estado de fraqueza e confusão tomou conta de Arjuna precisamente no momento difícil em que coragem e determinação são necessárias. Krishna aponta que essa ação não é digna de pessoas de coração elevado - aquelas que seguem a moralidade e o dever. Ele também enfatiza que essa confusão não leva ao céu, portanto não ajuda a alcançar a libertação espiritual, e não traz glória, que é importante para um guerreiro no cumprimento de sua honra e dever.
2-3
Ó Partha (Arjuna), não ceda a esta impotência degradante. Não lhe convém. Livre-se desta mesquinha fraqueza e levante-se, ó castigador de inimigos!
Explicação: Krishna exorta Arjuna a abandonar a fraqueza e se recompor, lembrando-o de que tal estado não é adequado para um herói. Ele convida Arjuna a superar seu desânimo e lembrar de seu dever como guerreiro. Krishna também se dirige a Arjuna como Partha - aquele que combate os oponentes, lembrando-o de sua coragem e capacidade de lutar. Com este endereço, Krishna exorta Arjuna a abandonar seu estado mental fraco e se levantar para aceitar o desafio da batalha e cumprir seu dever como guerreiro.
2-4
Arjuna disse: Ó destruidor do mal, ó controlador dos sentidos, como posso no campo de batalha enviar flechas contra homens como Bhishma e Drona, que são dignos da minha honra?
Explicação: Neste verso, Arjuna continua a expressar suas profundas dúvidas e dilemas morais, dirigindo-se a Krishna com os títulos Madhusudana (destruidor de Madhu) e Arisudana (destruidor de inimigos). Esses títulos simbolizam o poder de Krishna para destruir o mal e proteger a justiça, e são usados para enfatizar a capacidade de Krishna de ajudar Arjuna neste momento difícil.
2-5
É melhor mendigar neste mundo do que viver à custa de almas nobres que são meus professores. Mesmo que aspirem a ganhos mundanos, eles são meus guias espirituais. Se eles forem mortos, tudo o que desfrutaremos será manchado de sangue.
Explicação: As declarações de Arjuna refletem a sua profunda luta entre os seus deveres como guerreiro e os seus princípios morais – ele tem dificuldade em aceitar a ideia de que, ao cumprir o seu dever, terá de matar aqueles por quem sente profunda reverência e gratidão. Deve-se esclarecer que Arjuna prefere mendigar a matar os seus professores, que pertencem à casta mais alta.
2-6
Não sabemos o que seria melhor — vencê-los ou deixá-los vencer-nos. Aqueles cuja morte não desejaríamos viver estão à nossa frente — os filhos de Dhritarashtra.
Explicação: Neste verso, Arjuna expressa a sua total confusão e dilema moral. Ele não sabe o que é melhor — vencer os seus parentes na batalha ou deixá-los vencê-lo. Ele está tão profundamente em conflito que não consegue decidir qual é o curso de ação correto.
2-7
Agora estou confuso sobre o meu dever e, devido à fraqueza, perdi todo o autocontrole. Neste estado, pergunto-Te o que devo fazer para melhorar. Agora sou Teu discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me!
Explicação: Arjuna neste momento rende-se a Krishna como um discípulo, pedindo a Krishna para o guiar e ensinar. Esta rendição é muito significativa porque Arjuna reconhece que ele próprio não consegue resolver os seus problemas e procura a orientação de Krishna para encontrar o caminho certo e alcançar a melhor solução possível.
2-8
Não consigo encontrar um meio que dissipe esta tristeza que seca os meus sentidos. Não serei capaz de a superar mesmo que ganhe um reino próspero na terra sem inimigos, como o senhor dos céus.
Explicação: Este verso enfatiza o conflito interno de Arjuna e a sua incapacidade de lidar com a situação, mesmo que obtivesse uma vitória material. Sugere que ele não encontra realização em conquistas mundanas se estas exigirem sacrifícios morais e emocionais. A sua alma procura uma solução superior, espiritual, e não apenas riquezas e poder mundanos.
2-9
Sanjava disse: Tendo dito isto, Arjuna, o conquistador de inimigos, disse a Krishna: Govinda, eu não lutarei, e silenciou.
Explicação: Neste verso, Sanjaya descreve como Arjuna declara totalmente a sua recusa em lutar. Ele se dirige a Krishna como Govinda ("aquele que agrada os sentidos, também protetor das vacas"), e não como Hrishikesha. Hrishikesha significa "senhor dos sentidos". Apesar desta disciplina, Arjuna recusa-se a lutar, dirigindo-se a Krishna como Govinda (aquele que agrada os sentidos, também protetor das vacas). Ele confirma a sua decisão com as palavras "Eu não lutarei", e depois permanece em silêncio, indicando a sua exaustão emocional e confusão espiritual.
2-10
Ó descendente de Dhritarashtra, naquele momento Krishna, sorrindo, no meio dos dois exércitos, disse estas palavras ao angustiado Arjuna:
Explicação: Este verso marca a resposta de Krishna à recusa de Arjuna em lutar. Hrishikesha (Krishna, o senhor dos sentidos) vê Arjuna angustiado e exausto, estando no meio dos dois exércitos no campo de batalha, mas com um leve sorriso (que pode indicar a sua paz divina e compreensão da situação) começa a sua resposta. Krishna dirige-se a Arjuna diretamente no seu momento de crise para o ajudar a superar as suas dúvidas e tristezas. O sorriso simboliza a paz e a certeza de Krishna de que ele tem uma solução para tirar Arjuna da sua confusão emocional.
2-11
O Senhor Supremo disse: Falando palavras eruditas, tu lamentas o que não merece ser lamentado. Aqueles que são sábios não lamentam nem os vivos nem os mortos.
Explicação: Neste verso, Krishna começa o seu ensinamento, indicando que a tristeza de Arjuna é desnecessária. Arjuna lamenta os vivos e os mortos, mas os sábios — aqueles que compreendem a verdadeira natureza da vida e da morte — não os lamentam, pois compreendem que a alma é eterna e indestrutível. Krishna indica que a sabedoria não está apenas nas palavras ou na compreensão intelectual, mas também na compreensão da eternidade da alma e da realidade da vida. Arjuna, embora fale como uma pessoa sábia, não compreende que a existência humana transcende os limites da morte física.
2-12
Na verdade, nunca houve um momento em que Eu não tenha existido, nem tu, nem estes governantes. E nunca haverá um momento em que deixaremos de existir.
Explicação: Neste verso, Krishna ensina a Arjuna sobre a natureza eterna da alma. Ele indica que nunca houve um momento em que nem Krishna, nem Arjuna, nem os outros governantes tenham existido. A alma é eterna, não é destruída pela morte do corpo e continua a existir para sempre. Isto significa que a vida e a morte são apenas processos de transição que não afetam a existência da alma. Este verso marca uma parte importante do ensinamento de Krishna sobre a imortalidade da alma. Ele enfatiza que a nossa existência não está limitada ao corpo físico e ao tempo. Portanto, a morte não é motivo para tristeza, pois a alma continua a existir noutra forma. Krishna está a tentar ajudar Arjuna a compreender que os governantes mortos na batalha, tal como o próprio Arjuna, continuarão a existir, pois a alma não é destrutível.
2-13
Assim como a alma no corpo passa pela infância, juventude e velhice, também após a morte ela adquire outro corpo. O sábio não se confunde com isso.
Explicação: Uma pessoa sábia que compreende a natureza eterna da alma não se confunde nem se entristece com a morte, pois está ciente de que a alma está apenas a passar para a próxima fase da vida noutro corpo. A morte é apenas um ponto de transição, não o fim. Neste verso, Krishna está a tentar convencer Arjuna de que a morte não é motivo para medo ou tristeza, pois a alma continua a existir e a evoluir.
2-14
Ó filho de Kunti, o aparecimento e desaparecimento temporários de felicidade e sofrimento no momento certo são como a vinda e a partida das estações do inverno e do verão. Elas surgem da perceção sensorial, ó descendente de Bharata, e uma pessoa deve aprender a suportá-las sem se deixar perturbar.
Explicação: Krishna exorta Arjuna a suportar estes sentimentos transitórios e a manter a calma, apesar das circunstâncias externas. Uma pessoa que consegue compreender esta natureza transitória mantém a calma tanto nos momentos felizes como nos difíceis, sem se deixar levar por flutuações emocionais. Este verso apela à estabilidade interior e à paz de espírito para que uma pessoa possa superar os desafios da vida, permanecendo espiritualmente forte. É indicado a Arjuna que as dificuldades da batalha e as dores emocionais são transitórias, e devem ser encaradas com paciência e consciência de que a alma permanece intacta, e isto deve ser feito não com indiferença, mas com compreensão e paz interior.
2-15
Ó melhor entre os homens, aquele que não se deixa influenciar pela felicidade e pelo sofrimento e permanece sereno em ambas as situações, é verdadeiramente apto para a libertação.
Explicação: Krishna enfatiza que apenas aqueles que são capazes de manter a paz espiritual e não se deixar levar pelas flutuações dos sentidos são dignos de alcançar a libertação espiritual. A imortalidade aqui é interpretada como libertação espiritual do ciclo da ação, o que significa liberdade de nascimentos e mortes repetidas. Uma pessoa que mantém a estabilidade interior e o autocontrole, apesar das circunstâncias externas, é adequada para este objetivo supremo. Arjuna é aconselhado a desenvolver tal força espiritual e equilíbrio interior para superar as suas dúvidas e medos no campo de batalha, bem como nas dificuldades da vida em geral.
2-16
Aqueles que são buscadores da verdade concluíram que o falso (o corpo material) é transitório, mas o verdadeiro (a alma) permanece imutável. Eles chegaram a esta conclusão ao investigar a essência de ambos.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a natureza eterna da alma e a natureza transitória da ilusão mundana. A irrealidade (ilusões e mundo material) não tem permanência, pois tudo o que está relacionado com o mundo material é transitório e destrutível. Por outro lado, a realidade (a alma) é eterna e não pode ser destruída. Aqui, Krishna lembra que o corpo material e as sensações mundanas têm uma natureza transitória, mas a alma, que é a verdadeira realidade, é imortal. Para Arjuna, este ensinamento ajuda a entender que as suas tristezas e medos são baseados na irrealidade (o mundo material transitório) e que ele deve concentrar-se na realidade eterna - a alma, que é imutável e permanente.
2-17
Sabe que aquilo que permeia todo este mundo é indestrutível. Ninguém pode destruir este ser imutável e eterno.
Explicação: Neste verso, Krishna explica ainda mais a natureza eterna da alma. Ele aponta que a alma, que permeia todo o mundo, é indestrutível. Esta alma é a realidade imutável e permanente que está presente em tudo o que existe. Krishna enfatiza que ninguém - nem o homem, nem qualquer outro poder - pode destruir a alma, porque ela é eterna e imutável.
2-18
O corpo material, no qual reside o indestrutível, incomensurável e eterno, está sujeito à destruição. Portanto, luta, ó descendente de Bharata!
Explicação: Este verso enfatiza novamente o ensinamento de Krishna sobre a imortalidade da alma e a sua independência do mundo físico. Krishna exorta Arjuna a lutar com a mente clara, entendendo que ele não causará dano real à alma, porque ela é eterna e indestrutível, e que o corpo é apenas o invólucro da alma.
2-19
Aquele que pensa que a alma pode matar e aquele que pensa que ela pode ser morta, ambos estão num entendimento errado. A alma não mata nem é morta.
Explicação: Este ensinamento é essencial para Arjuna entender que participar da batalha e a morte de outros guerreiros não afeta a verdadeira natureza da alma. A batalha e os seus resultados afetam apenas o nível corporal, mas a alma permanece eterna e não é afetada nem por ações nem pela destruição física. Krishna quer que Arjuna entenda esta realidade e abandone os seus medos e dúvidas sobre a participação na guerra.
2-20
A alma nunca nasce e nunca morre. Nunca começou a existir e nunca deixará de existir. É não-nascida, eterna, permanente e antiga; quando o corpo é morto, a alma não é morta.
Explicação: Este verso ajuda Arjuna a entender que o corpo é temporário, mas a alma é eterna e não está sujeita a mudanças físicas, como nascimento e morte. Krishna tenta diminuir os medos e dúvidas de Arjuna sobre a batalha, indicando que mesmo que o corpo seja morto, a alma permanece imutável e não afetada. Este ensinamento sobre a imortalidade da alma é um dos conceitos centrais do Bhagavad Gita e encoraja Arjuna a aceitar o seu dever como guerreiro, sem medo das consequências físicas.
2-21
Ó Pārtha, como pode um homem que sabe que a alma é indestrutível, eterna, não-nascida e imutável, matar alguém ou fazer com que alguém seja morto?
Explicação: Krishna explica novamente neste verso que a destruição do corpo físico não afeta a verdadeira natureza da alma. A alma não está sujeita ao nascimento ou à morte, e aqueles que entendem isso não se preocupam em matar no mundo físico, porque isso afeta apenas o corpo, não a alma. Este verso destina-se a que Arjuna compreenda que a participação na guerra e a luta que causa a morte não destruirão a verdadeira essência - a alma. Krishna tenta libertar Arjuna dos medos e dúvidas emocionais sobre a luta, explicando que as suas ações na terra são apenas no nível material, enquanto no nível da alma nada se perde.
2-22
Assim como um homem depõe roupas velhas e veste novas, a alma abandona os corpos velhos e entra em novos.
Explicação: Neste verso, Krishna usa uma analogia simples e clara para explicar o processo de reencarnação da alma. Assim como um homem troca de roupa velha e veste novas, a alma abandona os corpos gastos e passa para novos corpos após a morte. A alma não está presa a um corpo específico e é eterna, enquanto o corpo é transitório e se desgasta como roupas.
2-23
A alma não pode ser cortada por armas, não pode ser queimada no fogo, não pode ser molhada pela água nem seca pelo vento.
Explicação: Este ensinamento enfatiza mais uma vez que a alma é independente das forças do mundo físico e dos seus mecanismos de destruição. Krishna convida Arjuna a entender esta verdade espiritual para superar o medo da luta e da morte, pois a alma está totalmente protegida de mudanças físicas.
2-24
A alma não pode ser cortada, queimada, molhada ou seca. Ela é eterna, omnipresente, imóvel e constante.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza a natureza eterna e imutável da alma. Ele explica que a alma não pode ser destruída por quaisquer meios físicos, como ser cortada por armas, queimada no fogo, molhada na água ou seca ao vento. Isso significa que a alma é totalmente independente das forças materiais e das mudanças do mundo físico. Além disso, a alma é eterna, omnipresente, o que significa que existe em todos os seres vivos e em todos os tempos. Ela é imóvel, o que indica a sua estabilidade e imutabilidade. Krishna também indica que a alma é eterna e imutável desde tempos imemoriais.
2-25
A alma é não manifesta, inconcebível e imutável. Sabendo disso, não deves lamentar por ela.
Explicação: Neste verso, Krishna continua a instruir Arjuna sobre a imortalidade da alma e suas qualidades. Ele descreve a alma como não manifesta, o que significa que não pode ser vista com a percepção sensorial; inconcebível, indicando que a alma não pode ser totalmente compreendida pela mente ou pela lógica; e imutável, significando que a alma não está sujeita a mudança ou destruição.
2-26
Mesmo que consideres que a alma nasce e morre perpetuamente, ainda assim não tens motivo para lamentar, ó poderoso de braços.
Explicação: Mesmo que a alma estivesse sujeita a nascimento e morte contínuos, esta seria a ordem natural e lamentar este processo seria em vão. Krishna enfatiza aqui que, tanto na compreensão espiritual quanto na compreensão material do ciclo de vida, a morte é inevitável e natural, e mesmo neste caso, a morte seria apenas uma transição de uma forma para outra. Portanto, Arjuna não deve lamentar ou temer o resultado da batalha.
2-27
Para aqueles que nasceram, a morte é certa, e para aqueles que morreram, o nascimento é certo novamente. Portanto, o inevitável não deve ser lamentado.
Explicação: Este verso apela mais uma vez a Arjuna para superar sua tristeza e medo, pois a morte e o nascimento fazem parte da lei natural do Universo, que não afeta a eternidade da alma. As leis naturais do Universo explicadas anteriormente. *Leis Naturais do Universo: Dever e Justiça; Lei de Causa e Efeito; Ciclo de Nascimento e Morte; Libertação do ciclo contínuo de nascimento, morte e renascimento; Ordem Cósmica; Não-violência; Grandes mudanças cíclicas.
2-28
Todos os seres criados são não manifestos no início, manifestos no estado intermediário e novamente não manifestos quando perecem. Que base há para lamentar?
Explicação: Neste verso, Krishna explica o ciclo da vida para ajudar Arjuna a entender que lamentar as mudanças da vida é inútil. As entidades são não manifestas no início, o que significa que antes do nascimento não são visíveis ou fisicamente perceptíveis. Durante a vida, são manifestas, ou seja, fisicamente visíveis e perceptíveis, mas após a morte tornam-se novamente não manifestas. Isso reflete a ideia de que a entidade está apenas a passar de um estado para outro, mas a alma permanece intacta.
2-29
Alguém olha para a alma como maravilhosa, outro fala dela como maravilhosa, e outro ouve falar dela como maravilhosa, mas outros, mesmo depois de ouvirem falar dela, não conseguem compreendê-la.
Explicação: Este verso enfatiza que a alma é tão complexa e está além da compreensão do mundo físico que não pode ser totalmente compreendida pela lógica ou intelecto. Embora muitos aprendam ou ouçam falar sobre a alma, apenas alguns podem realmente compreender sua natureza eterna, imutável e espiritual.
2-30
Ó descendente de Bharata, aquele que reside no corpo nunca pode ser morto. Portanto, não precisas lamentar por nenhum ser vivo.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza mais uma vez a imortalidade e a indestrutibilidade da alma. A alma que reside no corpo é eterna e não pode ser destruída por armas físicas ou por quaisquer meios materiais. Arjuna, que lamenta a possível perda de seus parentes na batalha, é lembrado de que a morte do corpo físico não é a destruição da alma, pois a alma é eterna e independente das circunstâncias físicas.
2-31
Considerando o teu dever específico como um poderoso guerreiro, deves saber que não há ocupação melhor do que lutar com base em princípios morais; portanto, não tens o que hesitar.
Explicação: Krishna enfatiza que uma batalha justa é o dever supremo e a fonte de felicidade de um guerreiro, pois permite cumprir o seu dever e alcançar o crescimento espiritual. Não há objetivo ou tarefa maior para um guerreiro do que participar de uma luta pela justiça, e esta tarefa oferece a oportunidade de alcançar honra e cumprir o seu dever interior para com a sociedade e o Universo. Arjuna é lembrado de que, ao ignorar o seu dever de lutar, ele estaria em conflito com a sua natureza guerreira, o que poderia ter consequências para as suas ações. Assim, este verso apela a Arjuna para superar as dúvidas e os medos e aceitar o seu dever como lutador pela justiça.
2-32
Ó Partha, felizes são os poderosos guerreiros a quem tal oportunidade de luta surge por si só, abrindo-lhes os portões do céu.
Explicação: Para os guerreiros, participar de tal batalha é considerado um dever sagrado, pois oferece a oportunidade de alcançar honra e glória, bem como os céus. Krishna enfatiza aqui que é uma raridade e um privilégio que este tipo de batalha seja oferecido, e o guerreiro que a aceita obtém benefícios espirituais e pode ser recompensado com bem-aventurança após a morte.
2-33
Por outro lado, se não te envolveres nesta justa batalha, então, na verdade, negligenciando o teu dever e honra, incorrerás em pecado.
Explicação: Krishna indica que recusar-se a lutar significaria para Arjuna, como guerreiro, uma falha no cumprimento do dever, o que traria desonra e criaria consequências negativas para as suas ações.
2-34
As pessoas falarão sempre da tua desonra, e para um homem respeitável a desonra é pior do que a morte.
Explicação: Krishna também enfatiza que a desonra é pior do que a morte. Para um guerreiro como Arjuna, que é respeitado e famoso como um grande herói, perder a sua honra seria uma tragédia maior do que a morte física. A honra e a reputação de um guerreiro são muito valiosas, e perdê-las significaria perder o seu propósito e respeito na sociedade.
2-35
Ó grandes generais que estimam o teu nome e honra, pensarão que abandonaste o campo de batalha por mero medo e considerar-te-ão insignificante.
Explicação: Krishna tenta aqui mostrar a Arjuna que, se ele se recusar a lutar, isso arruinará a sua reputação tanto na sociedade como entre os seus companheiros de luta e aliados. É importante que Arjuna cumpra o seu dever de guerreiro para manter o respeito e a honra não só aos seus próprios olhos, mas também aos olhos dos outros.
2-36
Os teus inimigos proferirão muitas palavras duras e zombarão das tuas capacidades. O que poderia ser mais doloroso para ti do que isso?
Explicação: O desprezo e a difamação dos inimigos seriam não só prejudiciais para a sua reputação, mas também emocionalmente muito dolorosos, pois Arjuna seria considerado mais fraco e cobarde do que realmente é. Krishna enfatiza que tal humilhação e vergonha seriam ainda mais dolorosas do que a dor física ou as consequências da luta, pois para um guerreiro a honra e o respeito são da maior importância.
2-37
Se fores morto, alcançarás os céus, mas, se venceres, governarás a terra. Portanto, ó filho de Kuntī (Arjuna), levanta-te e luta com determinação.
Explicação: Neste verso, Krishna oferece a Arjuna duas opções: se for morto em batalha, alcançará os céus, o que para um guerreiro significa a mais alta recompensa espiritual. Por outro lado, se vencer, governará a terra e desfrutará dos frutos da vitória material. Em ambos os casos, o resultado é positivo, pois tanto a vitória como a morte são vantajosas e louváveis.
2-38
Luta por lutar, sem pensar na felicidade ou na tristeza, na perda ou no ganho, na vitória ou na derrota – agindo assim, nunca incorrerás em pecado.
Explicação: Este verso enfatiza que, se uma pessoa conseguir aceitar as situações mutáveis da vida da mesma forma, permanece espiritualmente pura e não adquire pecado, pois as suas ações são independentes dos resultados. Krishna ensina aqui que a ação altruísta está livre das consequências negativas da ação, se for realizada com uma mente equilibrada e sem apego aos resultados.
2-39
Até agora, descrevi-te este conhecimento através de um estudo analítico. Agora ouve como o explicarei em relação à ação sem o desejo de desfrutar dos frutos. Ó Pārtha, quando agires com tal conhecimento, libertar-te-ás das amarras criadas pela ação.
Explicação: Neste verso, Krishna conclui os seus ensinamentos da perspetiva da filosofia Sānkhya e começa a explicar o caminho do karma-yoga, ou ação altruísta. O ensinamento Sānkhya centra-se na compreensão do mundo através da análise intelectual e da distinção entre o corpo material e a alma eterna. Mas agora Krishna começa a explicar o karma-yoga – uma prática espiritual que se baseia não só no conhecimento teórico, mas também na ação prática e na disciplina espiritual. Krishna indica que, praticando o karma-yoga, Arjuna poderá libertar-se das amarras da ação – as consequências da ação que prendem uma pessoa ao ciclo de nascimento e morte.
2-40
Neste caminho não há perda nem diminuição, e mesmo um pequeno avanço neste caminho pode proteger dos maiores perigos.
Explicação: Krishna explica que mesmo um pequeno passo neste caminho pode proteger uma pessoa de grandes perigos, como os perigos do ciclo de nascimento e morte e das consequências negativas da ação. Isto significa que mesmo uma pequena determinação e um pequeno progresso no caminho espiritual trazem um enorme benefício.
2-41
Aqueles que seguem este caminho são firmes nas suas intenções e o seu objetivo é um só. Ó amado filho de Kuru, a mente daqueles que não são determinados é ramificada de muitas maneiras.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que aqueles que são decididos e concentrados no caminho espiritual têm a mente e a compreensão unidas e voltadas para um objetivo específico. Aqueles que reconheceram os seus objetivos espirituais seguem-nos com firme determinação e a sua mente não está dispersa ou desviada. Por outro lado, aqueles que carecem desta determinação ficam confusos e a sua mente está dispersa – tendem a confundir-se entre vários objetivos e oportunidades mundanas. Estas pessoas não têm uma direção unificada e a sua mente é como uma árvore com muitos ramos, procurando muitos caminhos, mas nunca alcançando um objetivo específico. Esta indecisão e desvio da mente impedem a concentração no crescimento espiritual e levam à confusão.
2-42
As pessoas com pouco conhecimento apegam-se muito às palavras gloriosas dos Vedas, que aconselham várias ações frutíferas para alcançar os planetas celestiais, obter um bom nascimento, força e assim por diante.
Explicação: Krishna encoraja Arjuna a não ceder a palavras ilusórias e a compreender que o verdadeiro crescimento espiritual não está relacionado com rituais, mas sim com uma compreensão mais profunda da natureza da alma e com a libertação das amarras da ação e mundanas, indicando que as palavras gloriosas podem enganar uma pessoa e desviá-la do verdadeiro caminho espiritual.
2-43
Desejosos de prazeres sensuais e de uma vida luxuosa, dizem que não há nada acima disso.
Explicação: Neste verso, Krishna explica como as pessoas que são consumidas por desejos e pela sede de prazeres materiais anseiam pelo reino celestial e realizam muitos rituais para alcançar esses objetivos. As suas mentes estão voltadas para os frutos do nascimento e da ação, o que significa que agem para obter benefício pessoal das suas ações e alcançar prazer e poder tanto nesta como na próxima vida.
2-44
Na mente daqueles que estão demasiado apegados ao prazer sensorial e à riqueza material e que são iludidos por tais coisas, não surge uma forte determinação para servir o Senhor Supremo com devoção.
Explicação: Neste verso, Krishna pretende indicar a Arjuna que, para alcançar o desenvolvimento espiritual e a libertação, é necessário renunciar ao apego aos bens materiais e concentrar-se na determinação e compreensão interior. Só quando a mente está livre de desejos é que uma pessoa pode alcançar uma profunda concentração espiritual e paz.
2-45
As escrituras védicas lidam principalmente com as três qualidades da natureza material. Ó Arjuna, eleva-te acima dessas três qualidades. Liberta-te de todas as dualidades e de toda a ansiedade por ganho e segurança, e estabelece-te no teu próprio ser.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a Arjuna que os Vedas frequentemente falam sobre atividades materiais relacionadas com as três qualidades materiais (bondade, paixão e ignorância). Essas qualidades estão ligadas à vida mundana, mas Krishna encoraja Arjuna a transcender essas três qualidades para alcançar um nível espiritual mais elevado.
2-46
Todos os propósitos que podem ser atendidos por um pequeno reservatório de água podem ser imediatamente atendidos por um grande reservatório de água. Da mesma forma, todas as vantagens das escrituras védicas podem ser alcançadas por aquele que conhece o verdadeiro propósito das escrituras védicas.
Explicação: Este verso ensina que, para a pessoa sábia e espiritualmente avançada que alcançou a iluminação espiritual, os rituais e regras dos Vedas tornam-se um instrumento e não um fim em si mesmos. Assim como num grande reservatório de água um pequeno lago perde a sua importância, da mesma forma a compreensão espiritual transcende os simples rituais e o conhecimento formal.
2-47
Tens direito apenas à execução da ação, mas não aos seus frutos. Nunca te consideres a causa dos frutos da ação, nem te apegues à inação.
Explicação: Neste verso, Krishna oferece um dos ensinamentos centrais do Bhagavad Gita sobre a ação desinteressada. Ele encoraja Arjuna a concentrar-se no cumprimento dos seus deveres sem esperar ou apegar-se aos resultados. Uma pessoa tem direito à sua ação, mas não deve tentar controlar ou exigir os frutos ou resultados da ação.
2-48
Executa os teus deveres, estando unificado com a disciplina espiritual, ó Dhanañjaya (Arjuna), abandonando o apego. Sê equânime tanto no sucesso quanto no fracasso, pois tal equilíbrio é a própria essência da disciplina espiritual.
Explicação: Krishna encoraja Arjuna a agir com equanimidade mental, independentemente do resultado. O apego aos resultados muitas vezes causa sofrimento e insatisfação, mas a verdadeira disciplina espiritual significa estar em paz tanto com a vitória quanto com a derrota. Ao manter este equilíbrio interior, a pessoa liberta-se das consequências da ação e do trabalho.
2-49
Com serviço devocional, ó Dhanañjaya, mantém longe de ti todas as ações degradantes e, com tal consciência, busca refúgio no Senhor. Aqueles que desejam desfrutar dos frutos das suas ações são mesquinhos.
Explicação: Krishna encoraja Arjuna a buscar refúgio na sabedoria – a agir com altruísmo e paz interior, sem buscar ganho pessoal. Aqueles que se apegam aos frutos da ação e agem apenas por motivos egoístas são chamados de mesquinhos, para corresponder ao texto do verso, pois o propósito de suas vidas se limita a ganhos materiais, que são transitórios e não proporcionam verdadeira satisfação espiritual. Dhanañjaya é um dos títulos ou nomes de Arjuna. Dhanañjaya significa literalmente conquistador de riquezas.
2-50
Uma pessoa dedicada ao serviço devocional pode libertar-se das boas e más consequências já nesta vida. Portanto, esforça-te para alcançar este estado, que é a arte de toda ação.
Explicação: Krishna também indica que a disciplina espiritual é a habilidade de agir de forma altruísta, de acordo com o próprio dever. disciplina espiritual como a arte de agir significa que uma pessoa que se estabeleceu no caminho da prática e sabedoria da disciplina espiritual é capaz de realizar habilmente os seus deveres sem apego aos resultados, mantendo a paz e o equilíbrio.
2-51
Agindo assim, os sábios que se dedicaram ao serviço devocional ao Senhor libertam-se do ciclo de nascimento e morte. Abandonando todos os desejos pelos frutos da ação, eles podem alcançar um estado que está livre de todo o sofrimento.
Explicação: Esses sábios alcançam um estado que está livre do sofrimento - é imortal e livre de todos os tipos de sofrimento físico e mental. É o estado de libertação espiritual, onde a alma se liberta dos laços da ação e do mundo material.
2-52
Quando a tua inteligência sair do denso labirinto da ilusão, tornar-te-ás indiferente a tudo o que foi ouvido e ainda será ouvido.
Explicação: Quando uma pessoa alcança um estado de sabedoria e supera as suas ilusões internas, torna-se livre do apego tanto ao que já ouviu (tradições, conhecimento) quanto ao que ainda está para ouvir. Isso significa que ela se torna espiritualmente independente e livre das limitações da compreensão mundana.
2-53
Quando a tua mente não se deixar mais levar pela linguagem florida dos Vedas e permanecer inabalável, absorta na contemplação do Eu, então terás alcançado a consciência divina.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que, para alcançar o estado de consciência divina, a mente de uma pessoa deve ser estável e não influenciada pela linguagem florida dos Vedas, que muitas vezes promete ganhos materiais e prazeres celestiais. Uma pessoa que atingiu esse nível não se deixa mais levar por tentações externas e mantém a paz interior e o foco na consciência de si e do Divino.
2-54
Arjuna disse: Ó Krishna, quais são os sinais daquele cuja consciência está imersa neste estado transcendental? Como ele fala e qual é a sua linguagem? Como ele se senta e como ele caminha?
Explicação: Com esta pergunta, Arjuna quer saber como a disciplina espiritual e a estabilidade espiritual se manifestam praticamente na vida cotidiana. Arjuna, ao se dirigir a Krishna como Keshava, refere-se a ele como o Deus todo-poderoso e supremo, capaz de fornecer respostas às questões mais profundas sobre a vida e a espiritualidade.
2-55
A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Pārtha, quando um homem abandona todas as variedades de desejos de gratificação dos sentidos, que surgem da concepção mental, e quando sua mente assim purificada encontra satisfação apenas em si mesmo, então se diz que ele está em consciência transcendental pura.
Explicação: Neste verso, Krishna responde à pergunta de Arjuna sobre as características de uma pessoa cuja inteligência é estável. Ele indica que tal pessoa abandonou todos os desejos que surgem da mente. Esta pessoa não está apegada a objetivos ou desejos mundanos que normalmente motivam interesses materiais e necessidades egoístas. Ele está livre do apego porque sua mente está purificada do desejo de ganho mundano.
2-56
Aquele cuja mente permanece imperturbável em meio às três misérias, que não se exalta quando há felicidade e que está livre de apego, medo e ira, é chamado um sábio cuja mente é estável.
Explicação: Uma pessoa que está livre do apego, não se preocupa com o sofrimento e não anseia pelo prazer é chamada de sábia que atingiu maturidade e estabilidade espiritual. Este verso ensina que somente quando uma pessoa supera o apego ao material e o medo das dificuldades da vida, ela pode ser verdadeiramente livre e sábia.
2-57
No mundo material, aquele que não se alegra ao receber algo bom nem se deprime ao receber algo ruim está firmemente fixo em conhecimento perfeito.
Explicação: A sabedoria estável é aquela que não guia uma pessoa por desejos e tentações emocionais, mas a mantém igualmente calma em condições favoráveis e desfavoráveis.
2-58
Aquele que é capaz de retrair seus sentidos dos objetos dos sentidos, como a tartaruga recolhe seus membros para dentro do casco, está firmemente estabelecido na sabedoria.
Explicação: Este verso enfatiza a importância do controle dos sentidos no caminho para a maturidade espiritual e a sabedoria. Uma pessoa que é capaz de controlar seus sentidos e não permitir que eles governem sua mente e ações é estável em sabedoria e capaz de alcançar paz e equilíbrio interior.
2-59
A alma corporificada pode restringir a gratificação dos sentidos, embora o gosto pelos objetos dos sentidos permaneça. Mas, experimentar um gosto superior, faz com que ela perca o interesse por eles e se fixe na consciência.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que uma pessoa que se abstém da gratificação dos sentidos pode se distanciar dos objetos dos sentidos, mas o desejo por eles pode permanecer profundamente no coração. Este desejo não desaparece simplesmente pela abstenção, pois os sentidos e a mente ainda podem estar apegados aos prazeres mundanos. Quando uma pessoa atinge a experiência suprema - a iluminação espiritual ou a verdadeira natureza da alma - esse desejo pelos prazeres mundanos desaparece por si só, pois essa experiência superior está ligada à consciência da presença Divina. Quando uma pessoa experimenta a verdade suprema, ela percebe que os desejos materiais são insignificantes e transitórios em comparação com a realização espiritual.
2-60
Ó Arjuna, os sentidos são tão fortes e impetuosos que arrebatam à força a mente até mesmo de um homem discriminador que se esforça para controlá-los.
Explicação: Mesmo quando uma pessoa é prudente e sensata, seus sentidos podem influenciar fortemente a mente e causar desvio do equilíbrio e da disciplina espiritual. Portanto, é muito importante não apenas tentar controlar a mente, mas também praticar constantemente a disciplina do controle dos sentidos para manter a estabilidade e o foco.
2-61
Aquele que restringe seus sentidos, mantendo-os todos sob controle, e fixa sua consciência em Mim, é conhecido como um homem de inteligência estável.
Explicação: Uma pessoa que controla seus sentidos e volta sua mente para Deus é capaz de manter uma sabedoria estável e não está sujeita à agitação causada pelos sentidos. Este verso enfatiza que a verdadeira sabedoria é alcançada quando a mente e os sentidos são controlados, e a pessoa vive com foco espiritual e paz interior.
2-62
Ao contemplar os objetos dos sentidos, desenvolve-se apego a eles, e desse apego nasce a luxúria, e da luxúria surge a ira.
Explicação: Neste verso, Krishna explica o processo da mente e das emoções humanas que leva a conflitos internos e sofrimento. Quando uma pessoa pensa em objetos dos sentidos (deseja obter coisas ou desfrutar de prazeres mundanos), o apego a esses objetos surge. Esse apego fortalece ainda mais o desejo por eles, que é uma forma de paixão. Se os desejos não são satisfeitos, eles se transformam em raiva, o que pode levar à inquietação interna e à perda adicional do controle da mente. Este ciclo - do pensamento sobre objetos mundanos à raiva - é um estado mental negativo que desvia a pessoa do caminho espiritual. Este verso ensina que, para evitar emoções negativas e raiva, é importante controlar os próprios pensamentos e não prestar muita atenção aos objetos e prazeres mundanos. O crescimento espiritual e a paz interior são possíveis quando uma pessoa interrompe o apego aos objetos dos sentidos e não permite que o desejo domine a mente.
2-63
Da ira surge a ilusão completa, e a ilusão confunde a memória. Quando a memória é confundida, a inteligência se perde, e quando a inteligência é perdida, a pessoa cai novamente no poço material.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve a regressão emocional e espiritual que ocorre quando uma pessoa sucumbe à raiva. Este verso enfatiza a importância de controlar as próprias emoções, especialmente a raiva, pois ela pode desencadear um processo autodestrutivo que leva à degradação espiritual. Para alcançar a paz interior e a sabedoria, é necessário abster-se da raiva e manter a mente clara e equilibrada.
2-64
Mas uma pessoa que está livre de todo apego e aversão e é capaz de controlar seus sentidos através de princípios reguladores pode obter a misericórdia completa do Senhor.
Explicação: Neste verso, Krishna indica que a pessoa que é capaz de controlar seus sentidos e se abster de apego e aversão aos objetos dos sentidos é aquela que alcança a paz interior. Ao contrário daqueles que cedem aos impulsos de desejo ou evitação, esta pessoa age de acordo com sua natureza interior e controla os sentidos, em vez de permitir que eles a controlem.
2-65
Uma pessoa que está tão tranquila não sofre mais; com essa consciência tranquila, a inteligência de alguém logo se estabelece.
Explicação: Este verso ensina que, para atingir a sabedoria interior e a libertação do sofrimento, é necessário cultivar a paz mental. Quando uma pessoa atinge essa paz, sua mente torna-se clara e a sabedoria espiritual estabelece-se rapidamente, levando à harmonia interior e ao crescimento espiritual.
2-66
Aquele que não está ligado ao Supremo não pode ter inteligência transcendental nem mente estável, sem a qual não há possibilidade de paz. E como pode haver felicidade sem paz?
Explicação: Este verso ensina que a felicidade espiritual vem do controle da mente e dos sentidos. Somente quando uma pessoa está unida à disciplina espiritual, ela é capaz de alcançar sabedoria, paz e felicidade.
2-67
Assim como o vento afasta um barco sobre as águas, a mente que segue os sentidos errantes rouba a inteligência de uma pessoa.
Explicação: Semelhante a como o vento leva um barco para longe em águas agitadas, a incontrolabilidade dos sentidos pode desviar uma pessoa da sabedoria e da paz interior. Para alcançar a estabilidade espiritual, é importante que a mente não seja subjugada pela influência e agitação dos sentidos, pois tal instabilidade pode levar à dispersão da mente e à perda da compreensão.
2-68
Portanto, ó poderoso de braços, certamente aquele cujos sentidos são restringidos de seus objetos tem inteligência firme.
Explicação: Ao controlar os sentidos e abster-se das tentações mundanas, a pessoa torna-se espiritualmente estável e atinge a paz interior e a clareza. Este controle sobre os sentidos é essencial para alcançar a clareza mental e uma profunda compreensão da vida, o que é importante para viver uma vida cheia de sabedoria.
2-69
O que é noite para todos os seres é o tempo de vigília para o autocontrolado; e o tempo de vigília para os seres é noite para o vidente.
Explicação: Neste verso, Krishna usa a metáfora da noite e do dia para explicar a diferença entre a percepção e a compreensão do mundo por uma pessoa sábia (disciplinada espiritualmente ou pensadora) e seres comuns. Para os seres comuns, que estão ligados ao mundo material, o que é claro e desperto para o sábio (autocontrolado) parece ser noite - ou seja, é incompreensível e inatingível para eles. Eles estão despertos quando se trata de assuntos mundanos, mas a consciência espiritual permanece oculta para eles. Por outro lado, o sábio, que alcançou uma profunda compreensão interior e libertação das tentações materiais, vê a verdadeira realidade, que está oculta daqueles que estão imersos nas ilusões do mundo material. Quando os seres comuns estão absortos em atividades e desejos mundanos, essa atividade mundana parece ser noite para ele - como algo sem importância e distante. Este verso ensina que uma pessoa sábia está desperta na compreensão espiritual, enquanto os seres comuns são guiados por estímulos materiais. Destaca a diferente percepção entre aqueles que controlaram seus sentidos e alcançaram a sabedoria, e aqueles que ainda estão ligados ao mundano.
2-70
Uma pessoa que não é perturbada pelo fluxo incessante de desejos - que entram como rios no oceano, que está sempre cheio, mas permanece imóvel - e somente essa pessoa pode alcançar a paz, e não o homem que se esforça para satisfazer tais desejos.
Explicação: Este verso explica que a paz é alcançada por aquele que não está apegado aos seus desejos e não busca realizá-los. Uma pessoa que sempre anseia pela realização de desejos mundanos é incapaz de alcançar a verdadeira paz interior. Assim como o oceano permanece imutável, mesmo quando a água flui para ele, também uma pessoa deve ser interiormente estável, apesar das tentações externas dos desejos.
2-71
Uma pessoa que abandonou todos os desejos de gratificação dos sentidos, que vive livre de desejos, que abandonou todo senso de posse e que está livre do ego - somente ele pode alcançar a paz real.
Explicação: Este verso ensina que a paz só pode ser alcançada quando uma pessoa vive desinteressadamente, livre de desejos, ego e apego. Tal vida leva ao equilíbrio e à harmonia consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
2-72
Essa é a maneira de se alcançar o estágio espiritual e divino, ó filho de Pṛthā, após o qual uma pessoa não fica mais iludida. Estando assim, mesmo na hora da morte, pode-se entrar no reino de Deus.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve o estado espiritual final que leva à realização da Consciência Divina. É um estado de estabilidade espiritual e libertação, onde a pessoa, ao atingir esse nível, não fica mais confusa ou sucumbe às ilusões mundanas. Essa pessoa obtém uma profunda compreensão da verdadeira natureza da alma e da Consciência Divina (a realidade espiritual suprema), tornando-se livre do sofrimento e do apego. Neste estado, mantém o equilíbrio e a paz, mesmo quando a vida se aproxima do fim, e finalmente alcança a realização e a libertação da Consciência Divina.
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