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4-1
O Senhor Supremo disse: Eu instruí esta ciência imperecível do serviço espiritual ao deus Sol, o deus Sol instruiu-o a Manu, o pai da humanidade, e Manu instruiu-o a Ikṣvāku.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a antiguidade e a imutabilidade do ensino da disciplina espiritual, enfatizando que este conhecimento espiritual não é novo nem foi alterado ao longo do tempo. É eterno e sempre existiu. Krishna indica que Ele próprio transmitiu originalmente esta disciplina espiritual imutável ao deus Sol, que é o governante do universo e o símbolo da luz. O deus Sol transmitiu então este conhecimento à humanidade. O deus Sol transmitiu-o ainda ao progenitor da humanidade e ao primeiro governante, que estabeleceu a ordem da vida da sociedade humana. Este ensinamento foi transmitido ao rei, do qual surgiu a dinastia dos governantes. Krishna enfatiza que o ensino da disciplina espiritual não é algo novo, mas é eterno e imutável, transmitido de geração em geração de fontes divinas para a humanidade.
4-2
Esta ciência suprema foi assim recebida através da cadeia de sucessão discipular, e os santos reis aprenderam-na assim. Mas, com o tempo, a sucessão discipular foi interrompida e, portanto, esta ciência, tal como é, parece estar perdida.
Explicação: Neste verso, Krishna explica como o ensino da disciplina espiritual foi transmitido através de uma cadeia de professor-discípulo. No passado, este ensino era transmitido aos reis-santos, que eram tanto governantes como professores espirituais. Esses reis eram responsáveis por governar a sociedade de acordo com os princípios espirituais. No entanto, com o tempo, este ensinamento desapareceu porque as pessoas se esqueceram do seu valor e se desviaram do caminho espiritual. O ensinamento que antes era praticado e compreendido, gradualmente desapareceu à medida que a sociedade perdia a sua conexão com a disciplina espiritual. Este conhecimento foi mantido em segredo e transmitido apenas aos escolhidos. Neste verso, Krishna dirige-se a Arjuna como Parantapa, que significa o destruidor de inimigos. Este endereço simboliza a força e a coragem de Arjuna, que são necessárias não só na luta física, mas também na luta espiritual contra os inimigos internos, como a ignorância e os desejos.
4-3
Essa mesma ciência antiga da união com o Supremo, estou a explicar-te hoje porque és Meu devoto e amigo; portanto, podes compreender o mistério transcendental desta ciência.
Explicação: Krishna enfatiza que este ensinamento é particularmente significativo porque não é apenas conhecimento teórico, mas também a chave para a compreensão espiritual. O seu mistério reside na capacidade de compreender e praticar a disciplina espiritual que leva à iluminação. Arjuna é considerado digno porque é tanto amigo como seguidor fiel, o que indica as suas capacidades espirituais e devoção a Krishna.
4-4
Arjuna disse: O deus Sol é mais velho do que Tu. Como posso entender que no início Tu lhe ensinaste esta ciência?
Explicação: Neste verso, Arjuna expressa a sua incompreensão sobre como Krishna poderia ter ensinado este antigo ensinamento da disciplina espiritual ao deus Sol, que viveu na antiguidade. Arjuna questiona como isso é possível, pois ele sabe que Krishna nasceu numa época posterior e é seu contemporâneo.
4-5
O Senhor Supremo disse: Muitos nascimentos ocorreram, tanto Meus como teus. Eu posso lembrar-me de todos eles, mas tu não consegues, ó subjugador de inimigos!
Explicação: Krishna é a alma eterna que pode entrar livremente neste mundo quando necessário e lembra-se de todos os seus nascimentos e ações passadas. Arjuna, sendo humano, é limitado na sua capacidade de se lembrar do passado e das suas vidas anteriores. Isto indica a diferença entre um ser humano comum e o Senhor Divino. Subjugador de inimigos é um epíteto que indica a capacidade de Arjuna de derrotar inimigos no campo de batalha, lembrando o seu dever como guerreiro.
4-6
Embora Eu seja não-nascido e Meu corpo transcendental nunca se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todos os seres vivos, ainda assim apareço em cada era na Minha forma transcendental original.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a sua natureza divina e capacidade de entrar neste mundo, permanecendo imutável e não nascido. Embora Ele seja o Senhor eterno e a sua alma seja indestrutível, Ele escolhe entrar no mundo material quando necessário. Krishna entra neste mundo não por necessidade, mas com o seu poder divino, o que Lhe permite operar aqui sem quaisquer limitações materiais.
4-7
Sempre e onde quer que a prática religiosa declina e a irreligião se torna predominante, ó descendente de Bharata, nessa altura Eu próprio desço.
Explicação: Neste verso, Krishna explica por que e quando Ele Se encarna neste mundo. Ele enfatiza que quando a justiça, a retidão é ameaçada e a injustiça, o mal aumenta, Ele entra no mundo para restaurar a ordem e proteger a justiça. Justiça refere-se à ordem cósmica e moral que garante o equilíbrio da sociedade, enquanto injustiça é o seu oposto, que destrói essa ordem. Este verso enfatiza que Deus não permanece indiferente quando a injustiça e a impiedade dominam a sociedade, mas intervém ativamente para proteger os justos e destruir o mal.
4-8
Para libertar os piedosos e aniquilar os malfeitores, bem como para restabelecer os princípios da justiça, Eu apareço era após era.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que Ele aparece neste mundo com três objetivos principais: proteger os justos, destruir os maus e restaurar a justiça. Ele enfatiza que isso acontece em todas as eras, quando é necessário restaurar o equilíbrio no mundo. Justiça é a lei divina que mantém a harmonia e a ordem, e quando esta ordem é ameaçada, Krishna vem restaurar esta lei.
4-9
Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e das Minhas atividades, ao deixar este corpo, não retorna mais a este mundo material, mas alcança a Minha morada eterna, ó Arjuna.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que aquele que compreende o Seu nascimento e ações divinas alcança a libertação e deixa de estar ligado ao ciclo do renascimento. O nascimento e as ações de Krishna não são semelhantes aos nascimentos e ações das pessoas comuns. São divinos e realizados com um propósito específico – proteger os justos e restaurar a justiça. Quando uma pessoa compreende verdadeiramente esta realidade divina, ela percebe que Krishna não está sujeito às leis materiais, como o nascimento e a morte. Essa verdadeira compreensão leva a pessoa à libertação do ciclo de nascimento e morte. Quando uma pessoa deixa o seu corpo material, ela não regressa mais a este mundo, mas alcança Krishna, o que significa alcançar a iluminação espiritual e a vida eterna com Deus.
4-10
Libertos do apego, do medo e da raiva, absortos completamente em Mim e encontrando refúgio em Mim, muitos e muitos que antes se purificaram com o conhecimento sobre Mim, alcançaram assim amor transcendental por Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna explica como as pessoas que procuram refúgio Nele e se libertaram do apego, do medo e da raiva, são capazes de alcançar a perfeição espiritual e fundir-se com a Sua essência. O apego às coisas materiais, o medo das perdas e a raiva que surge dos desejos não realizados são obstáculos ao crescimento espiritual. As pessoas que conseguem superar esses obstáculos libertam-se da influência do mundo material. Além disso, Krishna indica que aqueles que são purificados através do conhecimento e da ascese (autodisciplina) são capazes de alcançar o nível da Sua divindade. Esta combinação de conhecimento e disciplina espiritual é o caminho para a purificação e iluminação espiritual. Aqueles que seguem este caminho acabam por se fundir com a essência de Krishna, alcançando a libertação. Esta fusão significa uma unidade completa com Deus.
4-11
Conforme as pessoas se rendem a Mim, Eu as recompenso. Todos seguem o Meu caminho de várias maneiras, ó Pārtha.
Explicação: Neste verso, Krishna indica que Ele responde aos desejos e ações das pessoas de acordo com a forma como se dirigem a Ele. Se as pessoas procuram iluminação espiritual, recebem-na; se procuram sucesso material, também o obtêm. Krishna enfatiza que Ele é universal e sempre presente, e pessoas com diferentes motivações e abordagens podem procurá-Lo. Da forma como as pessoas desejam relacionar-se com o divino, da mesma forma Krishna responde e satisfaz os seus desejos. Pode ser através do amor, da fé, do conhecimento, da ascese ou mesmo dos desejos materiais – Krishna responde a todos de acordo com o seu desejo. Além disso, Krishna explica que todas as pessoas, consciente ou inconscientemente, seguem os Seus caminhos. Isso significa que, independentemente de uma pessoa procurar iluminação espiritual ou prazer material, ela ainda está dentro da ordem criada pela divindade e segue um caminho que eventualmente leva à compreensão da divindade. Pārtha é uma forma de tratamento para Arjuna, que significa filho de Pritha (outro nome da mãe de Arjuna, Kunti, é Pritha). Com este tratamento, Krishna indica uma ligação próxima com Arjuna e relembra a sua nobre origem, bem como o seu papel como guerreiro e seguidor de Krishna.
4-12
As pessoas neste mundo desejam sucesso na ação frutífera e, portanto, adoram as entidades celestiais. Certamente, as pessoas neste mundo obtêm rapidamente os frutos das ações que desejam.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza que as entidades divinas fornecem às pessoas os recursos necessários para a vida, desde que sejam honradas com sacrifícios e ações altruístas. Krishna explica que as pessoas que procuram sucesso material e os frutos das suas ações geralmente adoram várias entidades celestiais. Estas pessoas desejam resultados rápidos nas suas vidas, por isso procuram ajuda divina das divindades que governam diferentes esferas materiais. Isso pode significar riqueza, sorte ou outros benefícios materiais que procuram obter através da ação (das suas ações). No entanto, aqui Krishna enfatiza que estes sucessos rápidos e frutos materiais que as pessoas obtêm são apenas temporários e vêm da ação mundana. Estes resultados ocorrem apenas neste mundo das pessoas e estão ligados ao ciclo da ação – não estão ligados à libertação espiritual ou à verdadeira consciência do divino. O ganho material aqui é descrito como facilmente obtido, mas não é uma solução a longo prazo para o crescimento espiritual.
4-13
De acordo com as três qualidades da natureza material e as ações relacionadas, Eu criei as quatro ordens da sociedade humana. E, embora Eu seja o criador deste sistema, deves saber que Eu não faço nada e sou transcendental.
Explicação: Neste verso, Krishna explica as quatro ordens sociais, que são determinadas pelas qualidades e ações naturais das pessoas. Este sistema inclui os brâmanes (sábios e sacerdotes), os kshatriyas (guerreiros e governantes), os vaishyas (comerciantes e agricultores) e os shudras (trabalhadores e servos). Este sistema é estruturado para que a sociedade funcione em harmonia e cada pessoa desempenhe o trabalho que corresponde às suas qualidades e habilidades. Embora Krishna seja o criador deste sistema, Ele próprio é desvinculado e eterno, o que indica a sua natureza divina. Krishna está acima de todas as leis materiais e não participa do processo de ação que diz respeito às pessoas.
4-14
Não há ação que Me afete, nem Eu anseio pelos frutos da ação. Aquele que compreende esta verdade sobre Mim também não se envolve nas consequências das ações.
Explicação: Neste verso, Krishna explica a sua natureza divina, na qual realiza ações, mas estas não O contaminam nem O prendem. Ele revela que não tem desejo pelos frutos ou resultados das ações, pois age de forma desvinculada. Isso indica uma natureza impessoal e eterna que não tem apego ao mundo material e aos seus laços de ação. Krishna indica que qualquer pessoa que compreenda verdadeiramente a Sua capacidade de realizar ações sem apego ou desejo de resultados também pode se libertar da influência da lei do karma. Uma pessoa que pratica ações com uma mente desvinculada e intenção altruísta, como Krishna, é libertada das consequências da ação. Este princípio é a essência da ação altruísta.
4-15
Todos os libertos na antiguidade agiram com esta compreensão e, assim, alcançaram a libertação. Portanto, como fizeram os antigos, cumpre o teu dever nesta consciência divina.
Explicação: Neste verso, Krishna convida Arjuna a cumprir os seus deveres e explica que os antigos que desejavam a libertação realizaram as suas ações de acordo com os princípios da justiça, compreendendo a essência da ação desvinculada. Krishna indica que realizar ações compreendendo o seu significado mais profundo é um caminho essencial para a liberdade espiritual. Este ensinamento é eterno e foi seguido pelos antigos, portanto Arjuna também deve realizar as suas ações neste mundo sem se apegar aos seus frutos.
4-16
Nem mesmo os sábios conseguem discernir o que é ação e o que é inação. Agora vou explicar-te o que é ação e, ao sabê-lo, libertar-te-ás de todo o mal.
Explicação: Neste verso, Krishna aborda os conceitos de ação e inação, que é uma questão filosófica complexa, mesmo para os sábios. Muitas pessoas, incluindo os instruídos, estão confusas sobre o que realmente é ação e o que é inação, e como distinguir entre as duas. Isso indica que a essência da ação não é tão fácil de entender. Krishna promete explicar este mistério – como entender a ação que não contamina nem leva aos laços da ação. Ele enfatiza que, ao compreender a ação e a sua correta execução, uma pessoa pode se libertar de consequências desfavoráveis. Assim, esta compreensão permite superar os laços da ação e alcançar a liberdade espiritual.
4-17
As complexidades da ação são muito difíceis de entender. Portanto, o homem deve saber bem o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que a essência da ação é complexa e deve ser compreendida mais profundamente. Uma pessoa precisa compreender os três principais tipos de ação e as suas diferenças para poder avançar conscientemente no caminho espiritual. • Ação correta, que está de acordo com a justiça (leis da justiça). • Ação incorreta ou ação que está em conflito com a justiça (leis e princípios morais). • Inação ou ação que é realizada sem as consequências da ação, porque é feita com uma mente desvinculada (sem apego aos resultados da ação). A verdadeira natureza da ação é difícil de entender, porque mesmo uma mesma ação pode produzir resultados diferentes dependendo da intenção e do estado mental com que é realizada. A ação incorreta pode causar sofrimento e afastar de Deus, mas a ação correta leva ao crescimento espiritual.
4-18
Aquele que vê ação na inação e inação na ação é o mais sábio dos homens e, embora realize as mais diversas ações, encontra-se num estado transcendental.
Explicação: Krishna ensina que uma pessoa precisa ver a ação na inação e a inação na ação. Isso significa que um verdadeiro praticante de disciplina espiritual e um homem sábio entendem que, mesmo que esteja fisicamente a agir neste mundo, a sua mente e consciência estão livres do apego aos resultados e consequências da ação. Essa pessoa pode trabalhar e ser ativa, mas no seu estado interno não há apego à ação ou aos seus frutos – isso é inação na ação. Da mesma forma, há casos em que uma pessoa não age fisicamente, mas pensa ou deseja algo que desencadeia ação. Nesse caso, mesmo a sua inação pode ser ação, porque a sua mente está apegada e envolvida na expectativa dos frutos da ação. Isso significa que uma pessoa pode experimentar a ação mesmo sem fazer trabalho físico, se estiver apegada a desejos ou resultados. O homem sábio é capaz de compreender este profundo significado de ação e inação – ele age com uma mente desvinculada e, portanto, as suas ações não causam consequências da ação.
4-19
Considera-se uma pessoa que adquiriu conhecimento pleno aquela cujo cada esforço é livre do desejo de gratificação dos sentidos. Os sábios dizem que tal agente, cujos frutos das ações foram queimados pelo fogo do conhecimento perfeito, renunciou aos frutos.
Explicação: Neste verso, Krishna fala sobre uma pessoa que alcançou a verdadeira iluminação. Para essa pessoa, todas as suas ações são livres de apego e desejos pelos frutos da ação. Ele age, mas as suas ações não são guiadas pela força de desejos ou motivos egoístas. As ações dessa pessoa são queimadas no fogo do conhecimento, o que significa que ele age com o conhecimento que vem da consciência da divindade e da compreensão da verdadeira realidade. O conhecimento neste contexto é a compreensão da justiça e das ações desvinculadas, nas quais não há desejo por frutos materiais. Quando uma pessoa compreende que todas as ações devem ser realizadas altruisticamente, os seus laços com a ação são destruídos, porque ele não está mais ligado aos resultados da ação.
4-20
Renunciando a todo o apego aos frutos das suas ações, sempre contente e independente, ele não realiza nenhuma ação frutífera, embora esteja envolvido em diversas ocupações.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve uma pessoa iluminada que se libertou do apego aos frutos da ação. Tal pessoa está constantemente satisfeita, o que significa que não precisa procurar satisfação em objetos externos ou resultados de ações. Ele é independente de coisas externas, pois a sua satisfação provém da compreensão espiritual interior e da união com o divino. Embora essa pessoa continue a agir neste mundo e a cumprir os seus deveres, na verdade não faz nada no sentido da ação. Ele realiza ações sem apego, pelo que estas não formam laços de ação e não causam consequências futuras. Isto significa que, embora a perfeição espiritual seja um estado em que uma pessoa já não depende das ações, a ação ainda é necessária para apoiar a sociedade e o bem-estar do mundo. Tal ação deve ser realizada altruisticamente, sem apego ao resultado.
4-21
Tal pessoa compreensiva age com total controlo da mente e da inteligência, renuncia a quaisquer sentimentos de posse sobre os seus bens e age apenas o necessário para a manutenção da sua própria vida. Agindo assim, ele não é afetado pelas consequências das ações pecaminosas.
Explicação: Uma pessoa pode estar livre das consequências da ação se agir com uma mente desapegada e sem desejos pelos frutos da ação. Uma pessoa que está livre de desejos, controlou a sua mente e alma e renuncia à posse (apego material), pode realizar as suas ações no mundo sem se apegar a elas. As ações que tal pessoa realiza são consideradas ações corporais necessárias para a vida quotidiana, mas não causam consequências de ação. Isto significa que as suas ações são isentas de pecado ou contaminação, pois ele age com uma mente altruísta, e as suas ações são realizadas apenas a nível corporal, sem causar desejo ou apego. Esta é uma parte importante da disciplina espiritual e da disciplina espiritual — uma pessoa deve ser capaz de realizar ações, mas deve ser independente dos resultados da ação e das obrigações de propriedade.
4-22
A pessoa que está satisfeita com o que vem naturalmente, livre de dualidades e inveja, permanece igual tanto no sucesso como no fracasso e não está vinculada às suas ações.
Explicação: Neste verso, Krishna explica os princípios de uma vida desapegada. Uma pessoa que vive de acordo com a retidão está satisfeita com o que vem naturalmente. Ele não está apegado a desejos materiais e vive aceitando o que lhe é dado, sem desejar mais ou ficar insatisfeito com menos. Esta pessoa está livre de dualidades (como alegria e tristeza, bem e mal) que muitas vezes governam o mundo material. Tal pessoa também está livre de inveja, o que significa que não inveja os outros e não tem ciúmes dos seus sucessos. Ele é equilibrado tanto no sucesso como no fracasso — ele permanece calmo independentemente das circunstâncias externas, porque a sua felicidade vem da satisfação interior e da compreensão espiritual, e não de eventos externos. Mesmo que realize ações, tal pessoa não está vinculada à ação. Isto significa que as suas ações não causam consequências de ação, pois ele age de forma desapegada e sem desejo pelos frutos das ações.
4-23
As ações daquela pessoa que não está sujeita às qualidades da natureza material e está totalmente estabelecida no conhecimento transcendental fundem-se completamente com o transcendental.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve uma pessoa que se libertou do apego às coisas materiais e está livre tanto espiritual como mentalmente. A consciência de tal pessoa é baseada no conhecimento — ele compreende o propósito supremo da vida e age de acordo com o conhecimento espiritual, e não com os desejos mundanos. Uma pessoa que realiza as suas ações como um sacrifício ou disciplina espiritual está livre das consequências da ação. Sacrifício aqui significa ação altruísta que é dedicada a um propósito superior ou a Deus. Quando essa pessoa age desta forma, as suas ações são destruídas — isto significa que as ações não deixam consequências de ação. As suas ações não causam obrigações de ação porque a sua mente está livre de apego e ele age com conhecimento espiritual. A consciência liberta de uma pessoa permite-lhe realizar ações de forma desapegada — ele cumpre os seus deveres, mas sem desejar resultados, e assim não obtém quaisquer consequências de ação. Este ensinamento é eterno e foi seguido por pessoas antigas, pelo que Arjuna também deve realizar as suas ações como um serviço a Deus.
4-24
A pessoa que está completamente absorta na consciência da Consciência Divina certamente atingirá o reino espiritual, devido à sua completa dedicação às atividades espirituais, onde o sacrifício é uma manifestação Divina e a oferenda é espiritual.
Explicação: Este verso descreve o princípio da unidade completa entre o sacrifício, o sacrificador e a Divindade. Aqui, a Consciência Divina é entendida como uma realidade Divina abrangente que está presente em todos os aspetos do sacrifício. O próprio sacrifício é Consciência Divina, assim como o objeto a ser sacrificado é Consciência Divina, e é oferecido no fogo da Consciência Divina. Esta consciência de unidade de que tudo é Consciência Divina é alcançada quando o sacrificador age com uma mente totalmente dedicada à Consciência Divina. Significa que, quando uma pessoa age com a consciência de que todas as suas obras e oferendas são dedicadas à Divindade (Consciência Divina), as suas ações tornam-se parte da prática espiritual e ele chega à realização da Consciência Divina. Este é o princípio da disciplina espiritual — as ações tornam-se altruístas e são realizadas com Consciência Divina. Neste verso, Krishna enfatiza que, se uma pessoa realiza todas as suas ações com Consciência Divina, ela alcança a Verdade Absoluta e liberta-se das obrigações da ação.
4-25
Alguns praticantes de disciplina espiritual realizam sacrifícios honrando as Divindades, enquanto outros fazem oferendas no fogo da Consciência Divina.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve duas formas diferentes de sacrifício praticadas por praticantes de disciplina espiritual. Sacrifício aqui é um símbolo de ações altruístas que são dedicadas ao Divino ou à prática espiritual. • Primeira forma — alguns praticantes de disciplina espiritual realizam sacrifícios a seres Divinos ou Divindades. Estes praticantes de disciplina espiritual oferecem as suas ações ou oferendas às Divindades, procurando a união espiritual através desta adoração. • Segunda forma — outros praticantes de disciplina espiritual oferecem os seus sacrifícios no fogo da Consciência Divina. Estes praticantes de disciplina espiritual veem a Consciência Divina como o destino de todos os sacrifícios e oferecem as suas ações pelo bem da Divindade ou da verdade suprema. Este verso explica diferentes práticas de disciplina espiritual em que as ações são dedicadas a um propósito superior. Tanto o sacrifício às Divindades como o sacrifício à Consciência Divina são formas pelas quais os praticantes de disciplina espiritual alcançam a perfeição espiritual, pois todas as ações são dedicadas ao Divino ou ao caminho espiritual. Independentemente do tipo de sacrifício, o principal é que todas as ações sejam dedicadas a um propósito superior. Tal ação altruísta e sacrifício ajudam os praticantes de disciplina espiritual a desenvolver a consciência espiritual e a alcançar a perfeição espiritual.
4-26
Alguns, que desejam alcançar o controlo da mente e dos sentidos, sacrificam as atividades da audição e dos outros sentidos no fogo da contemplação interior, outros sacrificam os sons e outros objetos dos sentidos no fogo dos sentidos.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve diferentes práticas de sacrifício nas quais os praticantes de disciplina espiritual oferecem a sua mente e sentidos como um sacrifício à disciplina espiritual. Existem dois tipos principais de sacrifício: • Primeira forma — alguns praticantes de disciplina espiritual oferecem os seus sentidos (por exemplo, audição, visão, paladar) no fogo do autocontrolo. Significa que praticam o autocontrolo e a gestão dos sentidos para dominar os seus impulsos e evitar distrações de objetos externos. É uma forma de desenvolver o autocontrolo e disciplinar a mente. • Segunda forma — outros praticantes de disciplina espiritual oferecem objetos dos sentidos (por exemplo, som, cheiro, paladar) no fogo dos sentidos. Significa que oferecem as suas experiências percetivas ao caminho espiritual, não permitindo que estes objetos dos sentidos afetem a sua mente. Estes praticantes de disciplina espiritual controlam conscientemente a sua atitude em relação aos objetos dos sentidos, não permitindo que estas experiências os desviem do objetivo espiritual. Ambas as formas apontam para a importância do autocontrolo e da vida consciente na prática espiritual. O controlo dos sentidos e a disciplina da mente ajudam o praticante de disciplina espiritual a alcançar o equilíbrio espiritual e a evitar o apego aos prazeres mundanos.
4-27
Aqueles que desejam alcançar a autorrealização sacrificam todas as atividades dos sentidos e do sopro vital no fogo do controlo da mente, que é aceso pelo conhecimento.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve como os praticantes de disciplina espiritual praticam o autodomínio e o autocontrolo com a luz do conhecimento como guia. Existem dois tipos de ações que os praticantes de disciplina espiritual oferecem como sacrifício: • Ações dos sentidos — todas as ações que uma pessoa realiza com os seus sentidos, como audição, visão, tato e outras, são controladas e oferecidas como sacrifício, não permitindo que os sentidos se desviem para objetos externos. • Ações da força vital — a força vital é a respiração e outras energias corporais que controlam a vitalidade de uma pessoa. Os praticantes de disciplina espiritual também devem aprender a controlar e oferecer essas forças como um sacrifício no fogo do autodomínio. O sacrifício é feito no fogo do autodomínio e da disciplina espiritual, que simboliza a prática da disciplina espiritual e do autocontrolo. Esta prática é iluminada pela luz do conhecimento, que indica a consciência espiritual e a compreensão de si e do mundo. O conhecimento é o que ajuda o praticante de disciplina espiritual a compreender o verdadeiro significado das suas ações e a libertar-se do apego aos objetos dos sentidos. O objetivo deste sacrifício é purificar a mente e controlar os sentidos para alcançar o equilíbrio espiritual e a compreensão do propósito da vida. A luz do conhecimento é como um guia que ajuda o praticante de disciplina espiritual a não sucumbir aos prazeres mundanos e a desviar a atenção para o caminho espiritual. Arjuna deve realizar as suas ações como um serviço a Deus.
4-28
Outros fazem oferendas renunciando aos seus bens, outros, realizando austeridades severas, outros, praticando o sistema de oito passos do poder Divino, e ainda outros, estudando os Vedas para obter conhecimento transcendental.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve diferentes formas de sacrifício praticadas por praticantes de disciplina espiritual e ascetas, cada um escolhendo o seu próprio caminho para oferecer a sua vida e ações à Divindade ou ao desenvolvimento espiritual. Estes sacrifícios podem ser materiais, físicos, espirituais ou intelectuais, dependendo da natureza e do tipo de prática da pessoa. Os sacrifícios são feitos com forte compromisso e disciplina espiritual. • Doação de bens — as pessoas doam os seus bens materiais ou riquezas para ajudar os outros ou promover objetivos espirituais. Este tipo de doação ajuda aqueles que dependem de coisas externas a oferecer a sua contribuição para o caminho espiritual. • Doação de ascetismo — as pessoas doam através da ascese física ou disciplina, restringindo os seus desejos e vivendo estritamente de acordo com os princípios espirituais. Exige grande compromisso e força de vontade para controlar os seus sentidos e instintos. • Doação de disciplina espiritual — alguns praticam a disciplina espiritual e a contemplação para alcançar a união espiritual com o divino. É um caminho para expandir a consciência e alcançar a harmonia interior. • Doação com conhecimento e autoexploração — alguns doam o seu tempo e energia para estudar as escrituras sagradas, adquirir conhecimento e partilhar ensinamentos com os outros. Exige inteligência e compromisso interior para estar totalmente consciente e compreender os ensinamentos espirituais. As pessoas que participam nestes sacrifícios são aquelas que cumprem rigorosamente as suas promessas e trabalham diligentemente para alcançar a perfeição espiritual. Krishna explica que existem várias maneiras pelas quais uma pessoa pode oferecer a sua vida e ações, dependendo da sua capacidade e compromisso.
4-29
Ainda outros, que procuram controlar a respiração para entrar em transe, sacrificam a expiração na inspiração e a inspiração na expiração e, finalmente, parando completamente a respiração, permanecem em transe. Outros, restringindo a alimentação, sacrificam a expiração na expiração.
Explicação: Neste verso, Krishna fala sobre a disciplina do controlo da respiração, que é uma parte importante da prática da disciplina espiritual. A respiração é considerada a força vital, e o seu controlo é uma forma essencial de disciplina espiritual. • Alguns oferecem a expiração na inspiração e a inspiração na expiração — isto indica o controlo do fluxo da respiração, onde os praticantes de disciplina espiritual combinam e equilibram a inspiração e a expiração. É um símbolo da disciplina respiratória que ajuda a harmonizar o corpo e a mente. • Outros dominam a inspiração e a expiração — este verso refere-se aos praticantes de disciplina espiritual onde dominam a inspiração e a expiração, concentrando-se no controlo da respiração. É um aspeto importante da disciplina espiritual que ajuda a controlar a energia vital e a alcançar o equilíbrio interior. O controlo da respiração é uma das disciplinas da disciplina espiritual, onde os praticantes de disciplina espiritual dominam a sua respiração, o que os ajuda a controlar a mente e as emoções. O controlo da respiração está intimamente ligado ao controlo da mente, pois o equilíbrio da inspiração e da expiração ajuda os praticantes de disciplina espiritual a manter a paz interior e a disciplina espiritual.
4-30
Todos esses que conhecem o significado do sacrifício alcançam a libertação do carma e, tendo provado o néctar dos frutos do sacrifício, vão para a eterna morada Divina.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza a importância do sacrifício e como ele ajuda uma pessoa a se purificar e alcançar o objetivo espiritual mais elevado: • Conhecedores do sacrifício: aqueles que entendem a essência e o significado do sacrifício são descritos como pessoas que sabem como o sacrifício funciona na vida espiritual. O sacrifício aqui pode ser entendido num sentido mais amplo, como ação altruísta ou dedicação a um propósito superior. • Purificação dos pecados através do sacrifício: estas pessoas, através das suas ações conscientes e altruístas, purificam-se das suas qualidades negativas, pecados e ações. O sacrifício simboliza uma ação pura que elimina o egoísmo e o desejo por ganhos materiais. • Desfrutando dos restos do sacrifício: aqueles que participam do sacrifício desfrutam da bênção que é o resultado do sacrifício. Esta bênção simboliza a imortalidade e a realização espiritual que advém de ações altruístas. Aquele que serve sem o desejo de recompensa experimenta paz interior e consciência espiritual. • Alcançar a eterna consciência Divina: aqueles que participam neste processo abençoado de sacrifício e desfrutam dos seus frutos acabam por alcançar a consciência Divina - a realidade mais elevada, o estado espiritual eterno e imutável. A consciência Divina é a forma mais elevada de consciência espiritual que transcende o mundo material.
4-31
Ó melhor da dinastia Kuru, sem sacrifício nunca é possível viver feliz neste sistema planetário ou nesta vida, quanto mais na próxima?
Explicação: Aqueles que não sacrificam ou não participam do processo de sacrifício não têm lugar nem neste mundo nem no próximo. O sacrifício não é apenas um processo externo, mas também uma disciplina espiritual que permite ao indivíduo purificar-se e mover-se em direção à perfeição espiritual. O sacrifício é a auto-dedicação a Deus. Se uma pessoa não participa do processo de sacrifício, não tem acesso aos ganhos materiais neste mundo nem aos benefícios espirituais na próxima vida. Neste verso, Krishna dirige-se a Arjuna como o melhor da família Kuru para enfatizar que o sacrifício é essencial não só nesta vida, mas também após a morte.
4-32
Todas estas diferentes formas de sacrifício são confirmadas pelos Vedas, e todas elas surgem de diferentes ações. Sabendo-as assim, serás libertado.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que os vários tipos de sacrifícios que descreveu nos versos anteriores são expressos através da consciência Divina e encontrados nos Vedas - as escrituras sagradas que definem vários tipos de sacrifícios e cerimónias. Estes sacrifícios surgem das ações, o que significa que os sacrifícios fazem parte de uma cadeia de ações que ajudam uma pessoa a desenvolver a consciência espiritual e a alcançar a libertação das obrigações da ação. Este verso enfatiza que os sacrifícios não são apenas rituais externos, mas também parte das ações e deveres de um indivíduo. São uma forma de harmonizar as suas ações com a consciência Divina e os valores espirituais. Ao compreender que todos os sacrifícios são uma expressão da ação, uma pessoa pode libertar-se das correntes da ação e alcançar a liberdade espiritual. Quando uma pessoa percebe que todas as ações são uma forma de participar do sacrifício, ela deixa de se apegar às coisas materiais e se liberta da ação. Isso significa que ações altruístas (sacrifícios) permitem que uma pessoa viva livremente e alcance a libertação espiritual.
4-33
Ó conquistador de inimigos, o sacrifício feito com conhecimento é melhor do que a simples doação de bens materiais. Afinal, ó Partha, toda ação de sacrifício culmina totalmente no conhecimento transcendental.
Explicação: Neste verso, Krishna aponta a superioridade do conhecimento espiritual sobre os sacrifícios materiais. Embora os sacrifícios materiais (como riqueza, dinheiro ou bens) sejam importantes, o verdadeiro conhecimento espiritual é mais valioso do que quaisquer sacrifícios materiais. O sacrifício do conhecimento é o desenvolvimento da educação e da compreensão sobre o verdadeiro propósito da vida e os princípios da retidão. Krishna indica que todas as ações, mesmo os sacrifícios materiais, acabam por se concretizar com o conhecimento. Isso significa que o conhecimento espiritual é o que dá verdadeiro significado às ações e aos sacrifícios e guia a pessoa para a libertação das correntes da ação. Portanto, uma pessoa deve concentrar-se no desenvolvimento do conhecimento e fazer sacrifícios na compreensão espiritual, pois eles ajudarão a compreender a natureza da ação e da reação e evitar o apego ao mundo material. Neste verso, Krishna dirige-se a Arjuna duas vezes com as palavras Parantapa (conquistador) e Pārtha (filho de Kunti). Ao se dirigir a ele como Parantapa, Krishna aponta para a capacidade de Arjuna derrotar não só os inimigos externos, mas também os internos - a ignorância e o egoísmo. O endereço Pārtha lembra-o da nobre família em que nasceu e insta-o a compreender que ele deve cultivar o conhecimento espiritual e não apenas realizar sacrifícios materiais.
4-34
Aprende isso aproximando-te de um mestre espiritual com humildade, fazendo perguntas e servindo-o. Os sábios, que são videntes da verdade, transmitir-te-ão o conhecimento.
Explicação: Este verso ensina que o verdadeiro conhecimento pode ser adquirido através da humildade, fazendo perguntas ativamente e servindo ao mestre espiritual. Krishna enfatiza que, para alcançar a compreensão espiritual, um discípulo deve estar disposto a aprender com um mestre sábio que viu a verdade. O conhecimento não é apenas teoria, mas também experiência prática que pode ser adquirida através da disciplina e do serviço. Os mestres espirituais sábios são aqueles que ajudam o discípulo a alcançar a verdadeira compreensão e a libertação espiritual.
4-35
Tendo adquirido o verdadeiro conhecimento de uma alma auto-realizada, nunca mais te renderás a tais ilusões, pois com esse conhecimento verás que todos os seres vivos nada mais são do que parte de Mim – que estão em Mim.
Explicação: Neste verso, Krishna aponta para o poder do conhecimento espiritual. Quando uma pessoa adquire verdadeiro conhecimento espiritual, ela não é mais levada a ilusões. Ilusões aqui significam ignorância associada à percepção de si mesmo como separado dos outros e do Divino. O conhecimento espiritual permite que uma pessoa compreenda que todas as criaturas vivas estão interligadas. Este conhecimento revela que tudo o que existe está tanto na essência do próprio indivíduo como em Deus (Krishna). Esta unidade entre o indivíduo e o Divino é a principal conclusão que uma pessoa obtém ao adquirir conhecimento espiritual. Quando uma pessoa compreende que tudo está ligado ao Divino, ela liberta-se da dualidade de si mesmo e dos outros e compreende que toda a vida e tudo o que existe faz parte da consciência divina unificada. Este conhecimento ajuda a libertar-se das ilusões e a ver a unidade entre todas as vidas e Deus. Neste verso, Krishna dirige-se a Arjuna como Pāṇḍava - indicando a sua pertença à dinastia Pāṇḍava, que simboliza poder e justiça.
4-36
Mesmo que sejas o mais pecador entre todos os pecadores, tu, usando o navio do conhecimento, serás capaz de atravessar todos os teus pecados.
Explicação: Neste verso, Krishna enfatiza que o conhecimento espiritual é um meio extremamente poderoso que pode purificar uma pessoa de todos os pecados, por mais graves que tenham sido. Ele indica que mesmo que uma pessoa seja o mais pecador entre todos, ela pode ser purificada se usar o navio do conhecimento. O navio do conhecimento é usado aqui como uma metáfora que indica a capacidade do conhecimento espiritual de ajudar uma pessoa a navegar pelos pecados e pela injustiça. Este conhecimento dá o poder de superar erros passados e libertar-se das consequências das ações. Isso indica que o conhecimento espiritual não é apenas teórico, mas também prático, proporcionando à pessoa a oportunidade de se transformar e renovar. Uma pessoa que usa o poder do conhecimento é capaz de se purificar e superar os seus pecados. Krishna insta Arjuna a compreender que, independentemente dos erros do passado, o verdadeiro conhecimento espiritual o ajudará a atravessar esses pecados e a avançar em direção à libertação espiritual.
4-37
Assim como um fogo flamejante transforma a lenha em cinzas, ó Arjuna, assim também o fogo do conhecimento queima todas as reações das ações até às cinzas.
Explicação: Este verso ensina que o conhecimento espiritual age como um fogo poderoso que é capaz de queimar todas as reações das ações e libertar uma pessoa do vínculo mundano. Krishna enfatiza que o verdadeiro conhecimento é um poderoso agente de purificação que transforma as reações das ações em cinzas, deixando a pessoa livre de ações e pronta para o crescimento espiritual. O conhecimento não só ajuda a compreender o verdadeiro significado da vida, mas também liberta das ações passadas e conduz à libertação espiritual.
4-38
Na verdade, neste mundo não há nada tão sublime e puro como o conhecimento transcendental. Este conhecimento é o fruto de todas as práticas espirituais, e aquele que atingiu a perfeição no serviço de devoção desfruta deste conhecimento em si mesmo depois de algum tempo.
Explicação: Neste verso, Krishna destaca o valor e a santidade do conhecimento, enfatizando que o conhecimento é o purificador supremo. É mais importante do que qualquer outra coisa neste mundo, pois purifica a mente e a alma de uma pessoa, ajudando-a a compreender a sua verdadeira natureza e a consciência Divina. O conhecimento espiritual é o que ajuda uma pessoa a superar a ignorância, as ilusões e as consequências das ações. Este conhecimento leva à liberdade interior e à compreensão espiritual. Portanto, o conhecimento é considerado a forma mais elevada de purificação em comparação com qualquer outro ritual ou ação. Uma pessoa que se aperfeiçoou na disciplina espiritual, ou seja, que praticou disciplinadamente a disciplina espiritual e o autocontrolo, acaba por adquirir este conhecimento espiritual ao longo do tempo. Krishna enfatiza que este conhecimento é encontrado pela pessoa em si mesma - não vem de fora, mas deve ser encontrado e realizado graças à prática da disciplina espiritual e à jornada interior.
4-39
Uma pessoa de fé, que se dedicou à aquisição de conhecimento transcendental e que subjugou os seus sentidos, é digna de obter tal conhecimento e, tendo-o obtido, rapidamente alcança a paz espiritual suprema.
Explicação: Neste verso, Krishna aponta três condições importantes para que uma pessoa possa adquirir conhecimento espiritual e alcançar a paz suprema: • Fé - é uma parte essencial do caminho espiritual. Uma pessoa deve ter fé não só no Divino, mas também no caminho do conhecimento e no mestre que ensina esse conhecimento. A fé permite que uma pessoa continue o caminho espiritual, mesmo quando surgem obstáculos ou dificuldades. • Abnegação e dedicação - uma pessoa deve estar totalmente dedicada ao conhecimento espiritual. Isso significa que ela deve dedicar-se à prática e à exploração para obter uma verdadeira compreensão e consciência espiritual. • Controlo dos sentidos - para que uma pessoa possa adquirir conhecimento, ela deve ser capaz de controlar os seus sentidos e emoções. O controlo dos sentidos permite que a mente se torne estável e calma, o que é necessário para aprender totalmente o conhecimento espiritual. Quando uma pessoa pratica os ensinamentos espirituais com fé e dedicação e controla os seus sentidos, ela adquire conhecimento espiritual. Este conhecimento ajuda a pessoa a alcançar a paz suprema, que é um estado em que a pessoa está livre de ansiedade, sofrimento e ilusões. A paz suprema é o resultado que vem com a compreensão espiritual e a aquisição de conhecimento.
4-40
Mas os ignorantes e descrentes, que duvidam das escrituras reveladas, não têm consciência de Deus, mas caem. A alma cheia de dúvidas não tem felicidade neste mundo nem no próximo.
Explicação: Neste verso, Krishna descreve três importantes obstáculos no caminho do crescimento espiritual: ignorância, falta de fé e dúvidas. Ele explica que uma pessoa que não consegue superar essas barreiras de obstáculos perece tanto espiritual quanto emocionalmente, porque não tem felicidade neste mundo nem no próximo. • Ignorância - uma pessoa que não conhece a verdade ou o conhecimento espiritual está perdida e é incapaz de avançar no caminho espiritual. A ignorância é a maior falha que impede a compreensão da verdadeira natureza da vida. • Falta de fé - mesmo que uma pessoa tenha conhecimento, a falta de fé leva à incapacidade de praticá-lo. A fé é necessária para que uma pessoa se dedique totalmente ao caminho espiritual e confie na orientação do professor e do conhecimento. • Dúvidas - uma pessoa que está cheia de dúvidas não consegue alcançar a paz interior. As dúvidas corroem a prática espiritual e criam incerteza sobre os objetivos de uma pessoa. Uma mente duvidosa impede a concentração no desenvolvimento espiritual e impede que uma pessoa alcance a libertação do sofrimento. Isso significa que mesmo uma pequena determinação e um pequeno progresso no caminho espiritual trazem um enorme benefício. Este caminho é seguro e sem perdas, pois mesmo um pequeno esforço traz frutos espirituais. Este verso enfatiza que uma pessoa com uma mente cheia de dúvidas não tem felicidade neste mundo nem no próximo. Krishna explica que fé, conhecimento e convicção são necessários para alcançar a paz interior e o crescimento espiritual. Se esses pré-requisitos não forem cumpridos, a pessoa vive em inquietação, tanto nesta vida quanto depois dela.
4-41
Aquele que age com fé, renunciando aos frutos da ação, cujas dúvidas foram destruídas pelo conhecimento transcendental e que está firmemente estabelecido em sua própria natureza, ó conquistador de riquezas, não está mais ligado à ação.
Explicação: Neste verso, Krishna explica que uma pessoa que alcançou a autoconsciência através da disciplina espiritual e destruiu suas dúvidas com o conhecimento, não está mais ligada às ações da ação. Isso significa que tal pessoa vive livre da ação e não está mais ligada às consequências da ação.
4-42
Portanto, com a espada do conhecimento que está em seu coração, corte as dúvidas que surgiram da ignorância. Arme-se com disciplina espiritual, levante-se e lute, ó Bhārata!
Explicação: Neste verso, Krishna exorta Arjuna a usar o conhecimento como uma arma contra as dúvidas que surgiram da ignorância e estão em seu coração. Dúvidas e ignorância são os maiores obstáculos no caminho da compreensão espiritual e devem ser removidos para que uma pessoa possa dominar totalmente o conhecimento espiritual.
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